sábado, abril 20, 2013

Quando os destinos se cruzam

Numa cinzenta tarde do mês de abril, um homem ainda se perguntava o motivo de estar naquele cubículo nada aconchegante, entre quatro paredes frias de um velho presídio abandonado como tantos outros que o mundo conhece. Nenhuma prova conseguia incriminá-lo, mas a justiça por questões não esclarecidas mantinha esse velho senhor aprisionado. Lá fora, nuances de frio prenunciavam que o inverno viria mais rigoroso que nos outros anos. Há muitos invernos passa nesse leito mal acobertado o homem que aguarda a liberdade sonhada sem nada poder pagar. A justiça não abre mão de mantê-lo aprisionado, e ele, aguardando quem sabe, outro homem, de paletó e gravata, pasta recheada de papéis e de calçados brilhantes vir libertá-lo. Seu guarda, diz o aprisionado: - o senhor não sabe se neste mês eu consigo um advogado gratuito para me livrar dessas amarras que carrego há quase vinte anos? Infelizmente não sei meu senhor. Mas, esteve aqui na semana passada, um jovem aparentando não mais que trinta anos, perguntando por um nome idêntico ao seu. Disse que voltaria para visitá-lo. Em seguida, diz o guarda, me diga uma coisa: - por que mesmo o senhor se encontra aqui? Bem, respondeu ele: - Numa noite fria e escura, eu e minha esposa Marta, ainda grávida, voltávamos de uma visita a um de seus irmãos, num povoado muito distante de onde morávamos. Já havíamos escolhido o nome do nosso filho. Minha esposa fazia questão de colocar o meu nome, Lúcio, fazendo a mim a homenagem que tanto queria. De repente, inadvertidamente, numa curva me distraí e abalroei outro veículo causando um acidente de proporções inimagináveis. Tomei ciência dos fatos deitado numa cama de enfermaria, onde gentilmente uma senhora fazendo limpeza me contou. Perguntei a ela onde estava Lúcia, grávida por mais de 8 meses. Ela me respondeu, acho que foi para uma maternidade numa cidade vizinha, porque o bebê estava prestes a nascer e o risco de morte era muito grande. Sem que eu perguntasse, a senhora que comigo conversava disse que do lado de fora da porta tinha dois enormes policiais armados, de algemas nas algibeiras, aguardando meu suposto restabelecimento. Fiquei surpreso, mas acatei a ordem que me foi destinada. Saí de lá e fui enclausurado sem que soubesse melhor os motivos da minha prisão. Estou aqui há muito tempo sem saber o que aconteceu à Lúcia e a meu filho que viria ao mundo. Oro todas as noites para receber uma santa pessoa que possa tirar das minhas mãos esses grilhões de ferro fundido que o tempo utilizou para deixar a pele endurecida e com extrema calosidade. Tenho saudades da Lúcia e a esperança de conhecer nosso filho. Eu sei que vou ganhar a liberdade porque não foi proposital meu descuido naquela curva, foi puramente acidental. Ainda no meio da conversa com o guarda, não precisou se desgastar muito, pois seus olhos azulejados avistaram outros olhos não menos azuis que os seus, dizendo: - Boa noite. Sou advogado do Estado e tive a grata incumbência de encontrar nos registros judiciais, ainda aprisionado um nome igual ao meu. Apenas um pequeno detalhe. Ao meu nome, foi agregada a palavra filho. Portanto, meu pai, esperei anos para poder viver este momento de luz e glória levando o senhor para casa. O senhor está livre. Já providenciei a sua soltura. De joelhos sobre o chão frio daquele cubículo, o velho acariciava o filho e de mãos trêmulas dizia: eu tinha certeza que um dia o meu destino se cruzaria com o seu, meu filho.

Trânsito louco – ferramenta de tragédias

Nossa cidade tem aparecido na mídia nacional. Isso é motivo de orgulho para qualquer cidade. Pena que para nós o motivo das notícias tem sido de tristeza. Nosso trânsito está impossível. Em cada esquina um perigo. Em cada curva um acontecimento triste. Muitos pais perderam seus filhos pela falta de prudência deles ou de outros filhos. Verdadeiro caos. Há poucos dias, passando por um cruzamento da Rua Pará com a Rua Minas Gerais uma rede televisiva me parou e perguntou: - O que o senhor acha de colocar um semáforo nesta esquina? Respondi que seria muito bom, porque já estamos sendo motivos de notícias nacionais pejorativas, dado os acontecimentos que esta esquina tem nos causado. Saí daquele local e confesso que fiquei com vontade de voltar para dizer aos rapazes da mídia que o semáforo deveria ser instalado na cabeça dos imprudentes. Dentro dos olhos e nas orelhas, se possível. E olha que as autoridades públicas não tem tido nenhuma responsabilidade nisso não. A Polícia Militar tem feito o impossível para coibir os desavisados. Mas, a falta de educação no trânsito é muito grande e de todo tipo. A velocidade dos veículos e principalmente das motos nas ruas e avenidas é um absurdo. Poucos se respeitam. É do conhecimento de todos que o Secretário da Pasta responsável tem realizado mudanças no trânsito com o propósito de amenizá-lo. Esse trânsito louco que nasceu do simples ato das pessoas se locomoverem de um lugar para outro. Se todos fossem educados no trânsito tudo seria mais fácil. Famílias não seriam vitimadas com acontecimentos indesejáveis. Pais não perderiam seus filhos e nem filhos perderiam seus pais pela prática da imprudência. A velocidade e a falta de atenção na observação da sinalização tem sido a causa desses aborrecimentos. Os óbitos no trânsito são de difícil assimilação e raros são os acidentes que podem ser diagnosticados como fatalidades. A falta de cuidados e o despreparo ainda são as maiores causas dos acidentes. A ingestão de álcool ao volante, a velocidade incompatível com o local, a ultrapassagem arriscada, a desatenção, o sono, a falta de zelo com o estado dos veículos compõem um vasto e explosivo ingrediente dos perigos, agravados pelas condições péssimas de vias públicas e rodovias. Estas, deterioradas pelo excesso de peso de monstruosos veículos que nelas circulam sem que medidas proibitivas sejam observadas. Nesse tipo de cenário é possível constatar uma mistura de irresponsabilidade e deseducação dos que promovem sinistros. Eliminar uma vida para muitos não tem o menor significado. Matar a golpe de faca, puxar o gatilho ou ficar desatento ao volante é crime igualmente punível e grave, cujas classificações não fazem nenhuma diferença aos vitimados. Os acidentes em rodovias ou nas ruas das cidades são gravíssimos e não raramente, envolvem veículos em velocidades extrapoladas. O trânsito urbano cada vez mais se acentua violento e desgastante, com inocentes e culpados, todos os dias. O grande crescimento do número de veículos tem tornado ultrapassadas as inovações viárias. E olha que caminhamos rumo a situações ainda piores pelo aumento geométrico da frota. Isso não é só um problema local, na maioria das cidades os que transitam a pé e os motorizados continuam imprudentes. Quanto menor a cidade mais pessoas caminham pelas ruas evitando calçadas de passeio e se expondo aos mais variados riscos. As faixas a eles destinadas são desrespeitadas tanto pelo próprio transeunte como pelos motorizados. As motos ziguezagueiam entre veículos e constantemente provocam gravíssimos acidentes. Os veículos em altíssimos sons são ferramentas ameaçadoras da desatenção. O trânsito, doce ferramenta de ir e vir, acabou se tornando um campo de guerra. Só com a educação e a prática da cidadania consciente chegaremos ao denominador comum. Não me parece fácil essa tarefa, visto que no momento o próprio ministro da educação está mais preocupado com a sucessão do governo do estado que com a própria educação. Esta sim, me parece deseducada.