domingo, agosto 03, 2014

Meu pai, meu fascínio

Pai, neste dia de muita felicidade para mim, por ser um dia todo especial, quero lhe render toda homenagem de um filho. Quero pedir-te para que não tenhas medo de ser firme comigo. Mesmo eu tendo pouca idade, prefiro assim. Isso me faz sentir muito seguro nessa extensa caminhada que devo percorrer ao longo da minha vida. Não permita que eu adquira maus hábitos. Você sabe que eu dependo de você para saber o que é certo e o que é errado. Fale comigo sempre com a educação de seu costume, assim eu saberei como fazer dentro e fora de nossa casa. Leia e cante comigo, sorria para que eu aprenda a ser feliz assim como você. Fique atento no meu aprendizado escolar. Não deixe que eu fique preguiçoso e não faça minhas tarefas com responsabilidade. Eu preciso entender com seus exemplos a necessidade de ser útil no meio que vivo. Não me corrija com raiva no meio de estranhos porque eu fico com vergonha. Desculpe a sinceridade, mas ela é fruto do teu ensinamento. Gosto quando me corrige em particular e com a calma que você sempre tem. Peço-te que sempre me fale a verdade para que eu aprenda a fazer isso também, assim serei uma pessoa honesta quando for do seu tamanho. Por favor, meu pai, não me proteja das consequências dos meus erros, eu preciso aprender mesmo que for por caminhos menos desejáveis. Eu preciso enfrentar meus tropeços, eles que me farão amadurecer. Não permita que eu tenha tudo que peço, muitas vezes vou te pedir o que não devo. Minha cabeça ainda não distingue o supérfluo do necessário. Gostaria que quando falasse comigo o dissesse em tom bastante saudável, eu não consigo assimilar o aprendizado com qualquer tipo de alteração, mesmo porque o grito costuma distanciar corações. Gostaria que qualquer promessa que me fizesse pudesse cumpri-la sem qualquer esforço, assim eu aprenderei a cumprir as que eu faço também. Cobre-me sempre aquelas que fiz e ainda não tive oportunidade de realizá-las, principalmente a de ser responsável com minhas obrigações da escola. Tome o absoluto cuidado para não pôr à prova minha honestidade para que eu não corra o risco de aprender a mentir. A criança quando acuada procura safar-se da situação sem medir consequências. Eu não gostaria de fazer isso. Não me imponha religião nenhuma se não for seguidor dela. Só me apresente o seu Deus se tiver convivência com Ele. Sem essa condição não seria válido e eu poderia me tornar incrédulo. Não me faça perguntas se antes disso não tiver as respostas. Isso me conduzirá a procurar respostas na rua e nem sempre as que vou encontrar será o caminho certo que devo seguir. Não se preocupe com seus erros, eu preciso aprender que o erro é uma consequência de um ato involuntário e que pode ser corrigido. Nem sempre acertamos tudo. Quero saber da realidade por mais dura que seja ela. Preciso saber que você também erra para que eu tenha paciência com meus erros. Não diga que eu não consigo me controlar quando erro senão eu começarei a imaginar que sou forte demais e isso não é verdade. Crie em mim uma pessoa tolerante, muitas vezes eu irei precisar dessa habilidade. Pai me deixe pensar quando eu achar isso uma conquista, será ótimo que eu tenha minhas próprias experiências. Algumas coisas eu devo aprender sozinho e isso me fará no futuro um homem sem medo. Não tenha receio nenhum de dizer que me ama. Eu necessito dessa segurança para que eu possa transmitir isso a você e a todas as pessoas do meu convívio. “Não existe fórmula para a criação de um filho, mas pense! Duas doses de amor e uma de educação é um bom começo. O exemplo não é a melhor forma de educar o filho, ele é a única”. Pai, pena que falei tudo isso num momento que já não estamos mais juntos. Mas, mesmo distante, no mundo do não sei onde, continuas sendo meu exemplo e eu continuo seguindo seus passos. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br

Topas praticar um assalto?

Hoje amanheci querendo realizar loucuras. Pensei muito nisso. Refleti e achei que não estou de tudo errado. Convido você à prática desse delito comigo. Vamos praticar um assalto. Isso mesmo: assalto. Creio que nem punido seremos. A legislação brasileira não me parece ter subsídios para nos prender por esse ato. Então, se a própria lei não condena, o que pensa a sociedade pouco importa. Está querendo saber quando e quem vamos assaltar, não é? É meio segredo, sabe, mas eu te digo já. Minha proposta é irrecusável. Juntemos boa parte da nossa turma para formarmos uma quadrilha de loucos a buscar os que muitos não têm coragem. Não estou com isso mudando seus hábitos e muito menos corrompendo sua boa índole. Garanto que isso não nos dará prisão, a nenhum de nós. Não seremos molestados pela polícia. Nenhum delegado, por mais cuidadoso e cumpridor de seus afazeres não conseguirá botar a mão na gente. Nem profissional de defesa vamos precisar contratar. Não vamos precisar sair na calada da noite, saímos no amanhecer mesmo, naquele momento que o corpo ainda não se satisfez de seu justo direito de relaxamento. Formaremos pequenos grupos para podermos sair em várias regiões ao mesmo tempo e obtermos o sucesso absoluto no nosso intento. Vamos roubar das flores um pouco de perfume, roubemos do sol seus primeiros raios de claridade, roubemos dos pássaros a melodia de suas alegres notas musicais, roubemos das plantas e das árvores bastante de suas vitalidades, das nuvens brancas do céu roubemos a leveza, da terra a doçura de sua fertilidade e a garra de sua teimosia em continuar produzindo riquezas. Roubemos das formigas a solidariedade que só elas conseguem praticar, das borboletas roubemos a magia da polinização e das abelhas assaltemos a doçura do mel. Da criança roubemos o sorriso e a delicadeza. Tomemos todo cuidado necessário para que os frutos de nosso assalto não sejam em vão. Organizemos a nossa colheita e guardemos tudo que arrecadamos dentro de nossos corações. Contabilizemos os lucros e na melhor das medidas vamos distribuir as alegrias que conseguimos com pessoas infelizes ou que não tiveram a felicidade de se juntar ao nosso grupo. De repente, quem sabe, eles possam participar do próximo assalto conosco aumentando ainda mais a nossa riqueza e nos proporcionando mais possibilidades de ajudar a outros que ainda não foram agraciados pela sorte. Que o seu coração seja adocicado pelo meu convite e que você possa o mais rápido possível participar da nossa quadrilha de assaltantes. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br

Somos nós os animais ou são eles humanos?

Nesta semana ficou estampada neste jornal uma matéria bastante interessante quanto a maus tratos com animais. Assim que li acabei por refletir e imaginei quanto são humanos os animais e quanto são animais os humanos. Quando vejo uma atitude repugnante dessa natureza acabo por fazer analogias com o tratamento que recebem os humanos deles próprios. Ainda ontem observei numa reportagem televisiva, um cidadão brasileiro, frente a um hospital, rolando no chão e pedindo socorro e pelo amor de Deus. O hospital não atendeu a sua imploração e ele veio a falecer, passando para o outro lado da vida. É um absurdo que nos tempos de hoje isso ainda aconteça. Será que outro competente Magistrado irá se preocupar com a indenização da família? Eu tenho minhas dúvidas, não fossem tantos outros exemplos dessa natureza que ficou no esquecimento. E olha que não é muito difícil fazer a continha da indenização. O IBGE publicou que a média de vida do brasileiro é de 74 anos e 4 meses, daí é só fazer as contas. Quantos anos poderia ter esse cidadão? Quarenta e oito anos; cinquenta anos? Pois bem, admitindo que ele tivesse cinquenta anos, até que completasse a média de vida do brasileiro teriam exatamente passados 298 meses. Caso ele estivesse ganhando 2 salários mínimos por mês é só multiplicar. O salário mínimo de hoje é de R$ 724,00, portanto esse valor multiplicado pelo tempo de vida do cidadão que seria de mais 298 meses atingiria a cifra de R$ 431.504,00. Ah... O causador não tem como pagar à vista? Pague mensalmente à família, mas pague. E tem mais, uma cadeia de obrigação seria necessário considerar. Isto quer dizer que se o responsável direto pelo crime viesse a morrer, outro da família seria obrigado a continuar pagando. Eu acho isso uma ideia bastante válida. Se você não acha também, pergunte à família de quem perdeu a pessoa que obterá a resposta que precisa. Diz ainda a matéria jornalística que no dia 20 seria realizada na Concha Acústica ‘a Marcha de Defesa Animal’ Nada mais coerente levantar esse tipo de movimento. Ainda bem que tem gente preocupada com os indefesos. Mas, adiante a matéria continua: “o evento vai cobrar aumento da pena a quem maltrata, hospital público veterinário, vacinas, socorro para animais abandonados e atropelados...” Nada mais justo que a entidade cuidadora dos animais seja atendida nos seus anseios. Animais têm vida e precisam ser respeitadas. Agora, como ficam as pessoas que não têm hospitais para se tratarem; que são amontoadas em corredores sem a mínima atenção e cuidado. Morrem sem poder ser atendidas. Como ficam essas famílias quando perdem seus arrimos? Como ficam as crianças órfãos de pai e mãe? Resta-nos orar para que esses políticos que nos pedem votos hoje sejam responsáveis por essa calamidade que o brasileiro enfrenta. Dinheiro para construção de estádios foi fácil arranjar. Nosso governo, com dinheiro nosso, contribuiu com 98% dos custos. Já imaginou se eles tivessem construído 12 hospitais que pudessem atender a mesma quantidade de pacientes como os estádios são capazes de acomodar torcedores? Com certeza, chegaríamos mais perto de uma justiça tão sonhada pelos brasileiros e cada vez mais longe de uma realidade. Outra notícia que li, não no mesmo jornal, em outro, achei interessante. O tema é alusivo ao dinheiro que se gasta desnecessariamente pelos poderes. O texto dizia o seguinte: “Quando compro algo com meu dinheiro para meu consumo, quero objeto de baixo valor, mas de ótima qualidade. Quando compro algo com meu dinheiro para outra pessoa, também quero de menor valor, mas, a qualidade não me importa. Quando compro algo com o dinheiro dos outros para mim eu observo muito a qualidade, o valor pouco me importa. Quando compro alguma coisa para os outros com o dinheiro dos outros, não quero saber de qualidade e muito menos de valor. Eis porque o governo é um mau gestor do nosso dinheiro”. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br

7 a 1 – resultado compatível

Ninguém esperava por isso, nem os mais pessimistas. Não somos mais o país do futebol há muito tempo. Continuamos campeões, mas em outras áreas. O mundo todo cresceu no esporte. Nivelaram-se as seleções. Precisamos entender que perdemos a hegemonia futebolística há muito tempo. O esporte virou apenas um negócio de grandes valores com resultado repartido entre poucos. Há muito tempo o esporte brasileiro virou trampolim para cargos públicos, não no campo porque político nem pra isso presta, mas fora dele. Fiquem tranquilos. Nós ganhamos de 10 a 0 da maioria dos países do mundo contemporâneo. Ganhamos em falta de Educação, falta de saúde, falta de segurança, falta de moradia, excesso de assaltos, excesso de furtos, excesso de mortes no trânsito, excesso de licitações mentirosas, falta de ajuste salarial aos professores, falta de ajustes salariais à polícia, etc. Ainda mais, somos capazes de negociar carros roubados, retirar carteira nacional de habilitação sem passar por exames, assassinar pai e mãe para receber seguros de vida. Somos campeões de assaltos em semáforos, roubo de celulares, campeões de protestos por falta de pagamentos e por aí vai. Pena que a memória não me ajuda a lembrar em que mais somos campeões. Gostaria de saber onde está a preocupação com a qualidade de vida que estão passando as famílias que perderam suas casas pelas enchentes no sul do país. Qual a preocupação dos poderes constituídos com as consequências da enorme seca que assola a maioria das cidades brasileiras? Nosso país gastou 98% de verba pública para construção dos estádios para sediar essa vergonha. Nenhum outro país que sediou a copa cometeu esse crime. Você já imaginou o que ganharam as empreiteiras nessas negociatas? Já imaginou o financiamento que vão fazer nas próximas campanhas eleitorais para a corja de políticos desonestos? É uma vergonha. Este país já perde de 10 a 0 há muito tempo. Um cidadão decepcionado com o país que morava por causa do mau político selecionou frases que achou interessante. Diziam elas: “Político honesto é aquele que, depois de comprado, permanece comprado”. “Devia existir uma lei que obrigasse político e família de político a só estudar em escola pública e só se tratar em hospital público. Com certeza, tudo seria uma maravilha logo”. “Políticos e fraldas têm uma coisa em comum: precisam ser trocados regularmente e pela mesma razão”. “Neste ano vamos votar nas mulheres que praticam a prostituição, porque votar nos filhos não resolveu”. “As pessoas nunca mentem tanto quanto depois de uma caçada, durante uma guerra, ou antes de uma eleição”. “O contribuinte é o único cidadão que trabalha para o governo sem ter de prestar concurso”. Essas frases bem reproduzem a situação que vivemos. É uma pena que tudo isso se tornou um circulo vicioso. A única arma que temos é o voto. Para tanto precisamos ser consciente, saber em quem votar e depois cobrar atitudes e seriedade. Sete a um, resultado compatível com a realidade que vivemos. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br

Amor a qualquer custo

Muitas vezes nos sentimos sozinhos, perdidos, sentindo extrema necessidade de buscar horizontes mais lúcidos, caminhos novos para nossas vidas. Nessa jornada em meio a todo tipo de tropeços acabamos por encontrar uma grata virtude: a experiência. Encontraremos pessoas mais jovens e com elas reaprendemos, encontraremos pessoas de idades mais avançadas e com elas aprendemos de novo. Aprenderemos que cada tropeço nos traz oportunidades incríveis para sermos cada vez melhor. E é esse aprendizado que nos acompanha e nos faz repassar aos filhos o que precisam saber para serem felizes. Nós lhes transmitimos a vida, mas não podemos vivê-la por eles. Mostramos-lhes os caminhos, mas não podemos caminhar neles. Levamos-lhes aos templos religiosos, mas não podemos fazer com que sejam possuidores da fé. Podemos mostrar-lhes a diferença entre o certo e o errado, mas na hora das decisões pouco podemos decidir por eles. Compramos-lhes roupas, joias, carros e casas, mas não podemos fazê-los bonitos por dentro. Podemos lhes dar todo tipo de conselho, mas não nos é possível segui-lo juntos. Somos capazes de lhes dar amor pelo tempo que for necessário, mas não podemos impô-los. É possível para nós ensiná-los a compartilhar, mas não nos será possível fazê-los generosos. É de nossa responsabilidade ensinar-lhes o respeito, mas não há como forçá-los a serem respeitosos. Podemos aconselhá-los sobre como ter bons amigos, mas a escolha é feita por eles. Podemos até mesmo alertá-los a um relacionamento amoroso seguro, mas não tem como mantê-los puros. Podemos alertá-los sobre os males que atordoam a humanidade como álcool e drogas, mas não temos a oportunidade de dizer ‘não’ quando necessário. Somos capazes de explicar-lhes sobre o sucesso, mas não há como alcançá-lo por eles. Podemos mesmo fazer oração por eles, mas não nos será possível impor-lhes a palavra de Deus. Explicar-lhes a vida não nos será difícil, mas impossível dar-lhes a vida eterna. Podemos sim, dar-lhe o amor incondicional que temos por toda nossa existência e isso nós faremos a qualquer custo. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br

Minha irmã, minha grande amiga

Como foi bom contar sempre contigo. Que orgulho eu tinha de chamá-la de minha irmã. Nascemos do mesmo ventre, das mesmas entranhas, mas fomos fisicamente diferentes. Isso nunca importou, claro. O fato é que você foi minha irmã e minha melhor amiga, isso nos fez amar e ser amados um pelo outro por todo o tempo de nossa convivência. Lembro-me de você ainda pequena, quando balbuciava palavras, me perguntava oito, nove, dez vezes a mesma coisa e em seguida ainda me dizia: por quê? E eu tinha que explicar o porquê também por dez vezes. Mas isso nada importava. Você cresceu e me ajudou a aprender a sabedoria das coisas. Quando você se punha a orar seu gesto me obrigava a refletir o seu ato. Em todos meus momentos bons ou ruins estava sempre a oferecer o teu abraço, o teu carinho incondicional. Conheceu tanto a mim quanto você mesma. Um dos únicos defeitos seus era não criticar os meus defeitos. Sempre procurou mostrar o que de melhor eu tinha a oferecer. Me apoiava sempre e me divertia com seu ciúme infantil e transparente me mostrando a felicidade que tinha por sermos irmãos. Te agradeço muito pela companhia que me fizestes no pouco tempo que tivemos a felicidade do convívio. Não entendi ainda porque se foi. Não entendo até hoje porque as pessoas que amamos tanto têm um limite de convivência conosco. Amáva-mos um ao outro sem nada esperar de volta. Nenhuma pretensão era possível enxergar entre nós. Eu te entendia sempre e você me retornava o entendimento da mesma forma. Nos amamos muito durante o tempo que tivemos perto um do outro. Eu continuo te amando e creio que você o faz também, mas eu não imagino onde estás. A morte leva as pessoas embora e não informa para onde leva. As pessoas que ficam é que imaginam para onde foram levados seus mortos. Cada um segundo sua crença e sua fé define o ponto de encontro do futuro. Com os outros irmãos que aqui ficaram tentou-se diminuir a angústia da sua ausência. Ainda tive a felicidade de conviver por mais tempo com eles. Mas, dois deles também tomaram o seu rumo e deixaram nos três que aqui ficaram uma grande angústia de perder um pedaço de si. Eu tenho razão de sentir saudade. Nós fizemos um pacto de envelhecermos juntos e você não me deu essa chance. Não cumpriu sua promessa e sem mesmo despedir resolveu mudar de vida. Antecipou sua hora de ir embora. Não me deu prazo de te pedir para que não fosse. Simplesmente travou o ponteiro do seu relógio não deixando mais que suas horas acontecessem. Carlos Drumont, em versos, bem definiu nossa distância: “Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança. Sim, tenho saudades. Acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza, nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste. E você meu ilustre leitor? Tem pensado o quanto seu irmão é importante para você? Espero que tenha dito a ele ou a ela o quanto você os ama e que a construção de sua existência não termina sem a participação dessa ligação divina chamada irmandade. É preciso que amemos cada pessoa como se para nós ela estivesse acabado de nascer e seu coração não estivesse impreganado de julgamentos impróprios. Ame cada um como se fosse passado uma borracha sobre seus erros e se pudesse enxergar tão somente o que há de bonito dentro dos corações. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br

A ansiedade envenena o espírito

Esopo, um historiador grego que viveu no século VII, AC., num dia de inspiração única disse: “um pedaço de pão comido em paz é melhor do que um banquete comido com ansiedade”. Tinha absoluta razão. A ansiedade é um grande mal-estar físico e psíquico, que nos causa uma aflição e uma impaciência infinita. Normalmente caracterizada pela expectativa de algo que nos possa acontecer a qualquer momento sem que tenhamos oportunidade de fazer nossa própria defesa. As pessoas abatidas pela ansiedade ficam buscando caminhos que as possam transportar para mundos diferentes em busca de um sentido novo de vida. Pouco aceita estar consigo mesma, preferindo buscar horizontes desconhecidos onde a esperança lhe promete enganosa felicidade. Isso é morte em doses de homeopatia. Em situações dessa natureza as pessoas perdem a confiança em si mesma e transferindo aos outros a responsabilidade sobre si própria. A lógica diz que o problema que está dentro de nós não pode e não deve ser resolvido fora. É exercício inútil buscar soluções em outros lugares, de nada adianta fugir de nós mesmos. Para uma pessoa ansiosa e com angústia, um bosque florido assemelha-se a um precipício. A belíssima Las Vegas iluminada nada mais seria que um inferno cheio de luzes. Conta-se que uma vez uma mulher procurava na rua, frente sua casa, uma agulha que havia perdido. Toda vizinhança se propôs ajudá-la, até que uma de suas amigas lhe pergunta: em que lugar precisamente você a perdeu? – Ela respondeu: - Perdi dentro de casa, mas como aqui há mais claridade achei que teria mais chances de encontrá-la. As pessoas ansiosas perdem tempo procurando fora as soluções, ao invés de mergulharem dentro de si mesmas. É aí que o problema se torna maior. Não percebem que no silêncio de seus corações é que se encontra a felicidade perdida. O ser humano olha por todos os seus redores limitando-se a visitar seu ego. É preciso saber entender o que fazemos neste planeta. Saber de fato quem somos nós. Mais precisamente, quem sou eu. Enquanto essa resposta não ficar clara de nada vai adiantar programar viagens pelo mundo colorido das coisas. Seja lúcido e forte, resista a toda e qualquer tentativa de buscar fora de você a felicidade que mora dentro do seu peito. Quando te parecer não ter mais o que tinhas, seja paciente. Em suas viagens de buscas, coloque em primeiro lugar a felicidade dentro de suas bagagens. O mundo que você procura é você mesmo, não insista buscá-lo em outra parte. A ansiedade não dissolve o sofrimento do vazio que possamos ter amanhã, mas diminui toda força que hoje podemos ter. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br

Idade sim, envelhecimento não.

Trabalhe, ganhe dinheiro e poupe sempre um pouco para que sua independência não seja atropelada nos seus derradeiros dias. Também não precisa ser muito, mas não estrague o prazer que o dinheiro possa lhe proporcionar no final dessa caminhada tão importante, que pode até não acontecer caso você abotoe o paletó antes da hora. Você sabe que um idoso não consome muito, exceto alguns remédios e seu plano de saúde. Preocupe-se menos com a situação financeira dos filhos, supostamente você já lhes deu estudo e uma educação capaz de atender a seus anseios, agora eles já aprenderam a caminhar seus próprios passos. Não se sinta culpado de gastar consigo mesmo o que ganhou porque isso é um direito seu. Procure ter uma vida saudável e sem grandes esforços físicos. Faça exercícios moderados e não cometa exageros. Procure ter seus próprios meios de locomoção até quando não se expuser a perigos. Nada de estresse por coisa alguma. Esteja sempre limpo, um banho por dia pelo menos é muito bom e saudável. Sinta-se vaidoso, pode até frequentar salões de beleza, mas não se esqueça de visitar frequentemente o dentista, o urologista, o dermatologista e o geriatra. Use cremes e perfumes saudáveis sem incomodar os ambientes onde estiver. Não há necessidade de ser ultramoderno, tente ser eterno. Leia, escreva, ouça noticiários, pesquise a internet, ligue para os amigos mantendo-se atualizado. Dê sempre que possível sua opinião, fale de suas experiências, mas não desrespeite a opinião dos jovens porque elas podem ter uma conotação diferente da sua, mas não necessariamente contrária. Esqueça a expressão ‘no meu tempo’, pois seu tempo é hoje. Procure viver sua vida independente, não caia na besteira de morar com ninguém, se tiver essa possibilidade, claro. Cultive atividades salutares, sejam elas: cozinhar, pescar, dançar ou cuidar das plantas, entre outras. São tantas, faça o que gosta e o que seus recursos permitem. Viaje sempre que for possível, além de conhecer novos lugares terá o prazer de fazer novas amizades. Aceite convites de todo tipo, menos os que não lhe convém. Fale menos e ouça mais, nossas vidas só interessa a nós mesmos. Se alguém lhe perguntar sobre assuntos indesejáveis, seja sucinto e procure falar coisas boas e divertidas. Jamais fique se lamentando de algo que te aconteceu. Fale baixo e pausado, não faça crítica, aceite a situação como ela se apresenta. As dores e as doenças estarão sempre presentes não as tornem mais problemáticas do que são elas. Tente esquecê-las, afinal seus problemas são seus e de seus médicos. Seja religioso sem se apegar a velhos conceitos apregoados por interesse de pessoas ou classes. Não fique se apegando em qualquer tipo de religião depois de velho, rezando e implorando o tempo todo como um fanático. Se tiver que pedir algo a Deus, espere um pouco mais, logo estará perto Dele e poderá fazer isso pessoalmente. Ria muito, ria de tudo, você é um felizardo, você teve uma vida bem vivida, uma longa vida, a morte será somente uma nova etapa incerta, assim como foi incerta toda a sua vida. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br