domingo, agosto 03, 2014

Meu pai, meu fascínio

Pai, neste dia de muita felicidade para mim, por ser um dia todo especial, quero lhe render toda homenagem de um filho. Quero pedir-te para que não tenhas medo de ser firme comigo. Mesmo eu tendo pouca idade, prefiro assim. Isso me faz sentir muito seguro nessa extensa caminhada que devo percorrer ao longo da minha vida. Não permita que eu adquira maus hábitos. Você sabe que eu dependo de você para saber o que é certo e o que é errado. Fale comigo sempre com a educação de seu costume, assim eu saberei como fazer dentro e fora de nossa casa. Leia e cante comigo, sorria para que eu aprenda a ser feliz assim como você. Fique atento no meu aprendizado escolar. Não deixe que eu fique preguiçoso e não faça minhas tarefas com responsabilidade. Eu preciso entender com seus exemplos a necessidade de ser útil no meio que vivo. Não me corrija com raiva no meio de estranhos porque eu fico com vergonha. Desculpe a sinceridade, mas ela é fruto do teu ensinamento. Gosto quando me corrige em particular e com a calma que você sempre tem. Peço-te que sempre me fale a verdade para que eu aprenda a fazer isso também, assim serei uma pessoa honesta quando for do seu tamanho. Por favor, meu pai, não me proteja das consequências dos meus erros, eu preciso aprender mesmo que for por caminhos menos desejáveis. Eu preciso enfrentar meus tropeços, eles que me farão amadurecer. Não permita que eu tenha tudo que peço, muitas vezes vou te pedir o que não devo. Minha cabeça ainda não distingue o supérfluo do necessário. Gostaria que quando falasse comigo o dissesse em tom bastante saudável, eu não consigo assimilar o aprendizado com qualquer tipo de alteração, mesmo porque o grito costuma distanciar corações. Gostaria que qualquer promessa que me fizesse pudesse cumpri-la sem qualquer esforço, assim eu aprenderei a cumprir as que eu faço também. Cobre-me sempre aquelas que fiz e ainda não tive oportunidade de realizá-las, principalmente a de ser responsável com minhas obrigações da escola. Tome o absoluto cuidado para não pôr à prova minha honestidade para que eu não corra o risco de aprender a mentir. A criança quando acuada procura safar-se da situação sem medir consequências. Eu não gostaria de fazer isso. Não me imponha religião nenhuma se não for seguidor dela. Só me apresente o seu Deus se tiver convivência com Ele. Sem essa condição não seria válido e eu poderia me tornar incrédulo. Não me faça perguntas se antes disso não tiver as respostas. Isso me conduzirá a procurar respostas na rua e nem sempre as que vou encontrar será o caminho certo que devo seguir. Não se preocupe com seus erros, eu preciso aprender que o erro é uma consequência de um ato involuntário e que pode ser corrigido. Nem sempre acertamos tudo. Quero saber da realidade por mais dura que seja ela. Preciso saber que você também erra para que eu tenha paciência com meus erros. Não diga que eu não consigo me controlar quando erro senão eu começarei a imaginar que sou forte demais e isso não é verdade. Crie em mim uma pessoa tolerante, muitas vezes eu irei precisar dessa habilidade. Pai me deixe pensar quando eu achar isso uma conquista, será ótimo que eu tenha minhas próprias experiências. Algumas coisas eu devo aprender sozinho e isso me fará no futuro um homem sem medo. Não tenha receio nenhum de dizer que me ama. Eu necessito dessa segurança para que eu possa transmitir isso a você e a todas as pessoas do meu convívio. “Não existe fórmula para a criação de um filho, mas pense! Duas doses de amor e uma de educação é um bom começo. O exemplo não é a melhor forma de educar o filho, ele é a única”. Pai, pena que falei tudo isso num momento que já não estamos mais juntos. Mas, mesmo distante, no mundo do não sei onde, continuas sendo meu exemplo e eu continuo seguindo seus passos. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br

Topas praticar um assalto?

Hoje amanheci querendo realizar loucuras. Pensei muito nisso. Refleti e achei que não estou de tudo errado. Convido você à prática desse delito comigo. Vamos praticar um assalto. Isso mesmo: assalto. Creio que nem punido seremos. A legislação brasileira não me parece ter subsídios para nos prender por esse ato. Então, se a própria lei não condena, o que pensa a sociedade pouco importa. Está querendo saber quando e quem vamos assaltar, não é? É meio segredo, sabe, mas eu te digo já. Minha proposta é irrecusável. Juntemos boa parte da nossa turma para formarmos uma quadrilha de loucos a buscar os que muitos não têm coragem. Não estou com isso mudando seus hábitos e muito menos corrompendo sua boa índole. Garanto que isso não nos dará prisão, a nenhum de nós. Não seremos molestados pela polícia. Nenhum delegado, por mais cuidadoso e cumpridor de seus afazeres não conseguirá botar a mão na gente. Nem profissional de defesa vamos precisar contratar. Não vamos precisar sair na calada da noite, saímos no amanhecer mesmo, naquele momento que o corpo ainda não se satisfez de seu justo direito de relaxamento. Formaremos pequenos grupos para podermos sair em várias regiões ao mesmo tempo e obtermos o sucesso absoluto no nosso intento. Vamos roubar das flores um pouco de perfume, roubemos do sol seus primeiros raios de claridade, roubemos dos pássaros a melodia de suas alegres notas musicais, roubemos das plantas e das árvores bastante de suas vitalidades, das nuvens brancas do céu roubemos a leveza, da terra a doçura de sua fertilidade e a garra de sua teimosia em continuar produzindo riquezas. Roubemos das formigas a solidariedade que só elas conseguem praticar, das borboletas roubemos a magia da polinização e das abelhas assaltemos a doçura do mel. Da criança roubemos o sorriso e a delicadeza. Tomemos todo cuidado necessário para que os frutos de nosso assalto não sejam em vão. Organizemos a nossa colheita e guardemos tudo que arrecadamos dentro de nossos corações. Contabilizemos os lucros e na melhor das medidas vamos distribuir as alegrias que conseguimos com pessoas infelizes ou que não tiveram a felicidade de se juntar ao nosso grupo. De repente, quem sabe, eles possam participar do próximo assalto conosco aumentando ainda mais a nossa riqueza e nos proporcionando mais possibilidades de ajudar a outros que ainda não foram agraciados pela sorte. Que o seu coração seja adocicado pelo meu convite e que você possa o mais rápido possível participar da nossa quadrilha de assaltantes. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br

Somos nós os animais ou são eles humanos?

Nesta semana ficou estampada neste jornal uma matéria bastante interessante quanto a maus tratos com animais. Assim que li acabei por refletir e imaginei quanto são humanos os animais e quanto são animais os humanos. Quando vejo uma atitude repugnante dessa natureza acabo por fazer analogias com o tratamento que recebem os humanos deles próprios. Ainda ontem observei numa reportagem televisiva, um cidadão brasileiro, frente a um hospital, rolando no chão e pedindo socorro e pelo amor de Deus. O hospital não atendeu a sua imploração e ele veio a falecer, passando para o outro lado da vida. É um absurdo que nos tempos de hoje isso ainda aconteça. Será que outro competente Magistrado irá se preocupar com a indenização da família? Eu tenho minhas dúvidas, não fossem tantos outros exemplos dessa natureza que ficou no esquecimento. E olha que não é muito difícil fazer a continha da indenização. O IBGE publicou que a média de vida do brasileiro é de 74 anos e 4 meses, daí é só fazer as contas. Quantos anos poderia ter esse cidadão? Quarenta e oito anos; cinquenta anos? Pois bem, admitindo que ele tivesse cinquenta anos, até que completasse a média de vida do brasileiro teriam exatamente passados 298 meses. Caso ele estivesse ganhando 2 salários mínimos por mês é só multiplicar. O salário mínimo de hoje é de R$ 724,00, portanto esse valor multiplicado pelo tempo de vida do cidadão que seria de mais 298 meses atingiria a cifra de R$ 431.504,00. Ah... O causador não tem como pagar à vista? Pague mensalmente à família, mas pague. E tem mais, uma cadeia de obrigação seria necessário considerar. Isto quer dizer que se o responsável direto pelo crime viesse a morrer, outro da família seria obrigado a continuar pagando. Eu acho isso uma ideia bastante válida. Se você não acha também, pergunte à família de quem perdeu a pessoa que obterá a resposta que precisa. Diz ainda a matéria jornalística que no dia 20 seria realizada na Concha Acústica ‘a Marcha de Defesa Animal’ Nada mais coerente levantar esse tipo de movimento. Ainda bem que tem gente preocupada com os indefesos. Mas, adiante a matéria continua: “o evento vai cobrar aumento da pena a quem maltrata, hospital público veterinário, vacinas, socorro para animais abandonados e atropelados...” Nada mais justo que a entidade cuidadora dos animais seja atendida nos seus anseios. Animais têm vida e precisam ser respeitadas. Agora, como ficam as pessoas que não têm hospitais para se tratarem; que são amontoadas em corredores sem a mínima atenção e cuidado. Morrem sem poder ser atendidas. Como ficam essas famílias quando perdem seus arrimos? Como ficam as crianças órfãos de pai e mãe? Resta-nos orar para que esses políticos que nos pedem votos hoje sejam responsáveis por essa calamidade que o brasileiro enfrenta. Dinheiro para construção de estádios foi fácil arranjar. Nosso governo, com dinheiro nosso, contribuiu com 98% dos custos. Já imaginou se eles tivessem construído 12 hospitais que pudessem atender a mesma quantidade de pacientes como os estádios são capazes de acomodar torcedores? Com certeza, chegaríamos mais perto de uma justiça tão sonhada pelos brasileiros e cada vez mais longe de uma realidade. Outra notícia que li, não no mesmo jornal, em outro, achei interessante. O tema é alusivo ao dinheiro que se gasta desnecessariamente pelos poderes. O texto dizia o seguinte: “Quando compro algo com meu dinheiro para meu consumo, quero objeto de baixo valor, mas de ótima qualidade. Quando compro algo com meu dinheiro para outra pessoa, também quero de menor valor, mas, a qualidade não me importa. Quando compro algo com o dinheiro dos outros para mim eu observo muito a qualidade, o valor pouco me importa. Quando compro alguma coisa para os outros com o dinheiro dos outros, não quero saber de qualidade e muito menos de valor. Eis porque o governo é um mau gestor do nosso dinheiro”. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br

7 a 1 – resultado compatível

Ninguém esperava por isso, nem os mais pessimistas. Não somos mais o país do futebol há muito tempo. Continuamos campeões, mas em outras áreas. O mundo todo cresceu no esporte. Nivelaram-se as seleções. Precisamos entender que perdemos a hegemonia futebolística há muito tempo. O esporte virou apenas um negócio de grandes valores com resultado repartido entre poucos. Há muito tempo o esporte brasileiro virou trampolim para cargos públicos, não no campo porque político nem pra isso presta, mas fora dele. Fiquem tranquilos. Nós ganhamos de 10 a 0 da maioria dos países do mundo contemporâneo. Ganhamos em falta de Educação, falta de saúde, falta de segurança, falta de moradia, excesso de assaltos, excesso de furtos, excesso de mortes no trânsito, excesso de licitações mentirosas, falta de ajuste salarial aos professores, falta de ajustes salariais à polícia, etc. Ainda mais, somos capazes de negociar carros roubados, retirar carteira nacional de habilitação sem passar por exames, assassinar pai e mãe para receber seguros de vida. Somos campeões de assaltos em semáforos, roubo de celulares, campeões de protestos por falta de pagamentos e por aí vai. Pena que a memória não me ajuda a lembrar em que mais somos campeões. Gostaria de saber onde está a preocupação com a qualidade de vida que estão passando as famílias que perderam suas casas pelas enchentes no sul do país. Qual a preocupação dos poderes constituídos com as consequências da enorme seca que assola a maioria das cidades brasileiras? Nosso país gastou 98% de verba pública para construção dos estádios para sediar essa vergonha. Nenhum outro país que sediou a copa cometeu esse crime. Você já imaginou o que ganharam as empreiteiras nessas negociatas? Já imaginou o financiamento que vão fazer nas próximas campanhas eleitorais para a corja de políticos desonestos? É uma vergonha. Este país já perde de 10 a 0 há muito tempo. Um cidadão decepcionado com o país que morava por causa do mau político selecionou frases que achou interessante. Diziam elas: “Político honesto é aquele que, depois de comprado, permanece comprado”. “Devia existir uma lei que obrigasse político e família de político a só estudar em escola pública e só se tratar em hospital público. Com certeza, tudo seria uma maravilha logo”. “Políticos e fraldas têm uma coisa em comum: precisam ser trocados regularmente e pela mesma razão”. “Neste ano vamos votar nas mulheres que praticam a prostituição, porque votar nos filhos não resolveu”. “As pessoas nunca mentem tanto quanto depois de uma caçada, durante uma guerra, ou antes de uma eleição”. “O contribuinte é o único cidadão que trabalha para o governo sem ter de prestar concurso”. Essas frases bem reproduzem a situação que vivemos. É uma pena que tudo isso se tornou um circulo vicioso. A única arma que temos é o voto. Para tanto precisamos ser consciente, saber em quem votar e depois cobrar atitudes e seriedade. Sete a um, resultado compatível com a realidade que vivemos. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br

Amor a qualquer custo

Muitas vezes nos sentimos sozinhos, perdidos, sentindo extrema necessidade de buscar horizontes mais lúcidos, caminhos novos para nossas vidas. Nessa jornada em meio a todo tipo de tropeços acabamos por encontrar uma grata virtude: a experiência. Encontraremos pessoas mais jovens e com elas reaprendemos, encontraremos pessoas de idades mais avançadas e com elas aprendemos de novo. Aprenderemos que cada tropeço nos traz oportunidades incríveis para sermos cada vez melhor. E é esse aprendizado que nos acompanha e nos faz repassar aos filhos o que precisam saber para serem felizes. Nós lhes transmitimos a vida, mas não podemos vivê-la por eles. Mostramos-lhes os caminhos, mas não podemos caminhar neles. Levamos-lhes aos templos religiosos, mas não podemos fazer com que sejam possuidores da fé. Podemos mostrar-lhes a diferença entre o certo e o errado, mas na hora das decisões pouco podemos decidir por eles. Compramos-lhes roupas, joias, carros e casas, mas não podemos fazê-los bonitos por dentro. Podemos lhes dar todo tipo de conselho, mas não nos é possível segui-lo juntos. Somos capazes de lhes dar amor pelo tempo que for necessário, mas não podemos impô-los. É possível para nós ensiná-los a compartilhar, mas não nos será possível fazê-los generosos. É de nossa responsabilidade ensinar-lhes o respeito, mas não há como forçá-los a serem respeitosos. Podemos aconselhá-los sobre como ter bons amigos, mas a escolha é feita por eles. Podemos até mesmo alertá-los a um relacionamento amoroso seguro, mas não tem como mantê-los puros. Podemos alertá-los sobre os males que atordoam a humanidade como álcool e drogas, mas não temos a oportunidade de dizer ‘não’ quando necessário. Somos capazes de explicar-lhes sobre o sucesso, mas não há como alcançá-lo por eles. Podemos mesmo fazer oração por eles, mas não nos será possível impor-lhes a palavra de Deus. Explicar-lhes a vida não nos será difícil, mas impossível dar-lhes a vida eterna. Podemos sim, dar-lhe o amor incondicional que temos por toda nossa existência e isso nós faremos a qualquer custo. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br

Minha irmã, minha grande amiga

Como foi bom contar sempre contigo. Que orgulho eu tinha de chamá-la de minha irmã. Nascemos do mesmo ventre, das mesmas entranhas, mas fomos fisicamente diferentes. Isso nunca importou, claro. O fato é que você foi minha irmã e minha melhor amiga, isso nos fez amar e ser amados um pelo outro por todo o tempo de nossa convivência. Lembro-me de você ainda pequena, quando balbuciava palavras, me perguntava oito, nove, dez vezes a mesma coisa e em seguida ainda me dizia: por quê? E eu tinha que explicar o porquê também por dez vezes. Mas isso nada importava. Você cresceu e me ajudou a aprender a sabedoria das coisas. Quando você se punha a orar seu gesto me obrigava a refletir o seu ato. Em todos meus momentos bons ou ruins estava sempre a oferecer o teu abraço, o teu carinho incondicional. Conheceu tanto a mim quanto você mesma. Um dos únicos defeitos seus era não criticar os meus defeitos. Sempre procurou mostrar o que de melhor eu tinha a oferecer. Me apoiava sempre e me divertia com seu ciúme infantil e transparente me mostrando a felicidade que tinha por sermos irmãos. Te agradeço muito pela companhia que me fizestes no pouco tempo que tivemos a felicidade do convívio. Não entendi ainda porque se foi. Não entendo até hoje porque as pessoas que amamos tanto têm um limite de convivência conosco. Amáva-mos um ao outro sem nada esperar de volta. Nenhuma pretensão era possível enxergar entre nós. Eu te entendia sempre e você me retornava o entendimento da mesma forma. Nos amamos muito durante o tempo que tivemos perto um do outro. Eu continuo te amando e creio que você o faz também, mas eu não imagino onde estás. A morte leva as pessoas embora e não informa para onde leva. As pessoas que ficam é que imaginam para onde foram levados seus mortos. Cada um segundo sua crença e sua fé define o ponto de encontro do futuro. Com os outros irmãos que aqui ficaram tentou-se diminuir a angústia da sua ausência. Ainda tive a felicidade de conviver por mais tempo com eles. Mas, dois deles também tomaram o seu rumo e deixaram nos três que aqui ficaram uma grande angústia de perder um pedaço de si. Eu tenho razão de sentir saudade. Nós fizemos um pacto de envelhecermos juntos e você não me deu essa chance. Não cumpriu sua promessa e sem mesmo despedir resolveu mudar de vida. Antecipou sua hora de ir embora. Não me deu prazo de te pedir para que não fosse. Simplesmente travou o ponteiro do seu relógio não deixando mais que suas horas acontecessem. Carlos Drumont, em versos, bem definiu nossa distância: “Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança. Sim, tenho saudades. Acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza, nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste. E você meu ilustre leitor? Tem pensado o quanto seu irmão é importante para você? Espero que tenha dito a ele ou a ela o quanto você os ama e que a construção de sua existência não termina sem a participação dessa ligação divina chamada irmandade. É preciso que amemos cada pessoa como se para nós ela estivesse acabado de nascer e seu coração não estivesse impreganado de julgamentos impróprios. Ame cada um como se fosse passado uma borracha sobre seus erros e se pudesse enxergar tão somente o que há de bonito dentro dos corações. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br

A ansiedade envenena o espírito

Esopo, um historiador grego que viveu no século VII, AC., num dia de inspiração única disse: “um pedaço de pão comido em paz é melhor do que um banquete comido com ansiedade”. Tinha absoluta razão. A ansiedade é um grande mal-estar físico e psíquico, que nos causa uma aflição e uma impaciência infinita. Normalmente caracterizada pela expectativa de algo que nos possa acontecer a qualquer momento sem que tenhamos oportunidade de fazer nossa própria defesa. As pessoas abatidas pela ansiedade ficam buscando caminhos que as possam transportar para mundos diferentes em busca de um sentido novo de vida. Pouco aceita estar consigo mesma, preferindo buscar horizontes desconhecidos onde a esperança lhe promete enganosa felicidade. Isso é morte em doses de homeopatia. Em situações dessa natureza as pessoas perdem a confiança em si mesma e transferindo aos outros a responsabilidade sobre si própria. A lógica diz que o problema que está dentro de nós não pode e não deve ser resolvido fora. É exercício inútil buscar soluções em outros lugares, de nada adianta fugir de nós mesmos. Para uma pessoa ansiosa e com angústia, um bosque florido assemelha-se a um precipício. A belíssima Las Vegas iluminada nada mais seria que um inferno cheio de luzes. Conta-se que uma vez uma mulher procurava na rua, frente sua casa, uma agulha que havia perdido. Toda vizinhança se propôs ajudá-la, até que uma de suas amigas lhe pergunta: em que lugar precisamente você a perdeu? – Ela respondeu: - Perdi dentro de casa, mas como aqui há mais claridade achei que teria mais chances de encontrá-la. As pessoas ansiosas perdem tempo procurando fora as soluções, ao invés de mergulharem dentro de si mesmas. É aí que o problema se torna maior. Não percebem que no silêncio de seus corações é que se encontra a felicidade perdida. O ser humano olha por todos os seus redores limitando-se a visitar seu ego. É preciso saber entender o que fazemos neste planeta. Saber de fato quem somos nós. Mais precisamente, quem sou eu. Enquanto essa resposta não ficar clara de nada vai adiantar programar viagens pelo mundo colorido das coisas. Seja lúcido e forte, resista a toda e qualquer tentativa de buscar fora de você a felicidade que mora dentro do seu peito. Quando te parecer não ter mais o que tinhas, seja paciente. Em suas viagens de buscas, coloque em primeiro lugar a felicidade dentro de suas bagagens. O mundo que você procura é você mesmo, não insista buscá-lo em outra parte. A ansiedade não dissolve o sofrimento do vazio que possamos ter amanhã, mas diminui toda força que hoje podemos ter. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br

Idade sim, envelhecimento não.

Trabalhe, ganhe dinheiro e poupe sempre um pouco para que sua independência não seja atropelada nos seus derradeiros dias. Também não precisa ser muito, mas não estrague o prazer que o dinheiro possa lhe proporcionar no final dessa caminhada tão importante, que pode até não acontecer caso você abotoe o paletó antes da hora. Você sabe que um idoso não consome muito, exceto alguns remédios e seu plano de saúde. Preocupe-se menos com a situação financeira dos filhos, supostamente você já lhes deu estudo e uma educação capaz de atender a seus anseios, agora eles já aprenderam a caminhar seus próprios passos. Não se sinta culpado de gastar consigo mesmo o que ganhou porque isso é um direito seu. Procure ter uma vida saudável e sem grandes esforços físicos. Faça exercícios moderados e não cometa exageros. Procure ter seus próprios meios de locomoção até quando não se expuser a perigos. Nada de estresse por coisa alguma. Esteja sempre limpo, um banho por dia pelo menos é muito bom e saudável. Sinta-se vaidoso, pode até frequentar salões de beleza, mas não se esqueça de visitar frequentemente o dentista, o urologista, o dermatologista e o geriatra. Use cremes e perfumes saudáveis sem incomodar os ambientes onde estiver. Não há necessidade de ser ultramoderno, tente ser eterno. Leia, escreva, ouça noticiários, pesquise a internet, ligue para os amigos mantendo-se atualizado. Dê sempre que possível sua opinião, fale de suas experiências, mas não desrespeite a opinião dos jovens porque elas podem ter uma conotação diferente da sua, mas não necessariamente contrária. Esqueça a expressão ‘no meu tempo’, pois seu tempo é hoje. Procure viver sua vida independente, não caia na besteira de morar com ninguém, se tiver essa possibilidade, claro. Cultive atividades salutares, sejam elas: cozinhar, pescar, dançar ou cuidar das plantas, entre outras. São tantas, faça o que gosta e o que seus recursos permitem. Viaje sempre que for possível, além de conhecer novos lugares terá o prazer de fazer novas amizades. Aceite convites de todo tipo, menos os que não lhe convém. Fale menos e ouça mais, nossas vidas só interessa a nós mesmos. Se alguém lhe perguntar sobre assuntos indesejáveis, seja sucinto e procure falar coisas boas e divertidas. Jamais fique se lamentando de algo que te aconteceu. Fale baixo e pausado, não faça crítica, aceite a situação como ela se apresenta. As dores e as doenças estarão sempre presentes não as tornem mais problemáticas do que são elas. Tente esquecê-las, afinal seus problemas são seus e de seus médicos. Seja religioso sem se apegar a velhos conceitos apregoados por interesse de pessoas ou classes. Não fique se apegando em qualquer tipo de religião depois de velho, rezando e implorando o tempo todo como um fanático. Se tiver que pedir algo a Deus, espere um pouco mais, logo estará perto Dele e poderá fazer isso pessoalmente. Ria muito, ria de tudo, você é um felizardo, você teve uma vida bem vivida, uma longa vida, a morte será somente uma nova etapa incerta, assim como foi incerta toda a sua vida. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br

terça-feira, junho 03, 2014

Onde estávamos desde 1990

Bem, nos últimos vinte e poucos anos eu não posso dizer com precisão onde eu estava, mas imagino estar em lugares saudáveis. A memória não me permite dizer exatamente onde. Mas, com certeza, eu estive trabalhando. Eu posso explicar, com muita segurança, onde eu não estive. Não estive puxando o saco de nenhum político, isso não faz meu gênero, porque aqueles em que eu ainda acredito não precisam disso. Seus atos são suficientes para explicar onde estão e o que fazem. Eu não estive de 1998 a 2008 participando da máfia dos fiscais na câmara dos vereadores e servidores públicos de São Paulo, onde foi extorquida a bagatela de 18 milhões de reais dos cofres públicos. Para você ter uma ideia do valor ele corresponde a 720 carros de 25 mil reais cada. Também não estive participando do caso mensalão que surrupiou, em 2005, o valor equivalente a 55 milhões de reais (2.200 carros) na Câmara Federal. Não participei do rombo que as prefeituras e o Congresso Nacional fizeram em 2006 quando superfaturaram ambulâncias em até 260% fazendo com que o povo fosse roubado em 140 milhões de reais (5.600 carros). No caso Sudam, de 1998 e 1999 também não estive presente quando o Senado Federal e a União surrupiaram 214 milhões de reais (8.560 carros) com desvios aplicados com falsos documentos fiscais e contratos de bens e serviços. Eu não estive também presente em 2007 quando prefeituras, deputados e pessoas ligadas ao Ministério das Minas e Energia assaltaram os trabalhadores brasileiros em 610 milhões de reais (24.400 carros). Também não presenciei de 1989 a 1992 o caso dos anões do orçamento quando deputados roubaram 800 milhões de reais (32.000 carros) dos míseros viventes do chão brasileiro. Também não fui integrante e nem seria pelos meus princípios, do assalto de 923 milhões de reais (36.920 carros) no TRT de São Paulo de 1992 a 1999. Não fui participante do roubo de 1 bilhão e 800 milhões (72.000 carros), em 1999 no Banco Central e nem fugi para a Itália pensando que pudesse me safar dessa jogada. Não tive nenhuma participação no caso dos vampiros da saúde, de 1990 a 2004, quando assaltaram o Ministério da Saúde em 2 bilhões e 400 milhões de reais (96.000 carros) fraudando licitações. Não fui participante do assalto ao Banestado no Paraná de 1996 a 2000 quando usurparam 42 bilhões de reais (1.680.000 carros) remetendo dinheiro do povo brasileiro para contas particulares no exterior. Não fui integrante do assalto em 2009, quando um relatório de auditoria constatou que a Petrobrás contratou fretes com navios particulares usando formalidade verbal, sem documentos, no valor de 278 milhões de reais (11.120 carros). Bem, já dá para perceber que não estive em muitas ocasiões inescrupulosas executadas pelos mandantes dos poderes constituídos deste país. Imagine leitor se todo esse dinheiro tivesse sido aplicado na saúde e educação como os próprios políticos dizem que é preciso quando são candidatos. Você tem observado nas redes televisivas o que sofre o nosso povo em corredores de hospitais nojentos. Deve também ter observado como anda a educação deste país, com professores despreparados e mal pagos. Crianças frequentando escolas por causa da mísera comida que ali servem. Ah, não falei dos crápulas que desviam verbas da educação e da merenda escolar para obras onde facilmente monopolizam licitações. Portanto, ratifico que estive trabalhando em todos esses anos naquilo que gosto e posso fazer de forma honesta. Durante esse tempo também viajei e pude conhecer cinco países europeus, que fazendo comparações entre nós e eles, senti vergonha, não da minha Pátria, mas do povo que faz parte dela. Infelizmente poucos têm a dignidade que a Pátria precisa.

O coração predomina

Quem deve dominar qualquer tipo de impulso é o coração. É de dentro dele que devem surgir as preces. Ali Deus está contido. Ele está mais no coração das pessoas do que em qualquer outro lugar. Não está na cabeça. Nela as doutrinas se chocam com as dúvidas. Quando buscamos o melhor dos caminhos é dele que precisamos. Grande parte das pessoas caminha por força de correntes preguiçosas, enquanto outros mergulham em seus destinos guiados por mãos divinas. Essa é a nossa jornada. É preciso deixar que o coração fale. Como começar isso? Se você por alguma vez se deslumbrou por uma noite cheia de estrelas brilhando no firmamento ou se maravilhou com o perfume de uma das flores do campo, nascidas sem a mão do semeador, seu coração já começou a te dar ordens. Temos a graça do tamanho e qualidade desse doce órgão que pulsa em nosso peito. Os oceanos são enormes e não têm limites, mas a quantidade de água que você pode pegar deles é determinada pelo tamanho do recipiente que você porta em suas mãos. Se a vasilha for pequena você não poderá enchê-la além dos seus limites. Do mesmo modo, se o seu coração não estiver engrandecido, a graça que te habita também será limitada. O que fazer? Tire dele todas as suas mágoas, todas as diferenças e todos os preconceitos aceitando as verdades que devem morar dentro dele. Se no coração dos homens tivesse a consciência do caminho para a plenitude não fabricariam guerras, nem vagariam distraídos pelas estradas da inconsequência. Do mesmo modo como a alegria sentida nos sonhos se evapora quando acordamos a alegria sentida quando estamos acordados também desaparece quando despertamos para uma consciência menos humana. Comece hoje mesmo, preencha e termine todos os seus dias impregnados de amor ao próximo. Essa é nossa grande missão. São as normas que o coração estabelece quando somos chamados à vida. Cada uma de suas batidas nos traz uma oportunidade de servir, basta que aproveitemos. Deus foi sábio quando colocou dentro de nós uma bússola apelidada de coração. Ele sabia que a força que nele predomina abrandaria qualquer tipo de dificuldade. O coração tem domicílio no peito, embora nossa anatomia se desespere quando conseguimos ser só coração. Deixa o seu coração falar, interrogue os rostos e não escute as línguas.

Forças estranhas

Os homens foram moldados à semelhança da perfeição, mas não tem sido fácil isso. Cada um de nós traz por dentro forças incríveis que nem mesmo os estudiosos conseguem entender e decifrar. Somos todos heróis, embora poucos fossem capazes de aproveitar a potencialidade que têm. Quando cremos temos fé, quando temos fé temos domínio e equilíbrio absoluto. Um dos atributos que nos faz ter essa virtualidade é a calma. Para conservá-la é preciso possuir o hábito de não dramatizar nada, nem mesmo tornar trágico as coisas simples por natureza. Sem esse controle ninguém poderá pretender o domínio das coisas e muito menos das pessoas. A isso a ciência denomina administração. A calma nos dá a certeza de que estamos no caminho certo. A inquietação dos apóstolos quando os problemas de grande magnitude aconteciam, eram abafadas pelo olhar tranquilo e sereno do Mestre. Nem palavras precisavam ser ditas. Para se manter sereno é preciso aprender a ter competência e sabedoria. Uma pessoa intranquila jamais terá autoridade em situações de desequilíbrio. Aqueles que conseguem administrar seus limites jamais desperdiçarão de uma só vez todas suas energias, a ponto de não tê-las no exato momento do necessário. O autocontrole é uma técnica que amplia a liberdade de cada um. Se tivermos uma infinidade de coisas para fazer com um menor tempo para executá-las, administremos o tempo então, começando por fazer as coisas mais importantes e deixar que as de menor importância fiquem para depois. Não podemos de pronto aceitar a ideia de que não somos capazes, para que isso não se torne uma obsessão e cada vez mais nos tornarmos escravos dessa afirmativa, acabando por acreditar nesse falso estado de coisas. Não é fácil a nossa luta. Existe dentro de cada um de nós um zoológico de forças contrárias. Dois ferozes falcões que se lançam sobre tudo que aparece, não se importando se isso possa nos fazer bem ou mau. É preciso domá-los para que se fixem sobre coisas preciosas e de grande valia – são nossos olhos. Duas enormes águias com garras implacáveis e afiadas querendo a qualquer custo destroçar o que nelas tocam. Temos que treiná-las para que sejam úteis e nos ajudem todos os dias - são nossas mãos. Dois animados coelhos que teimam em adentrar onde lhes agrada, fugindo de toda e qualquer dificuldade. Temos de ensinar-lhes a permanecerem cadenciados e serenos – são nossos pés. Uma ferocíssima serpente, apesar de constantemente presa entre 32 barras de ferro, está sempre pronta a envenenar o semelhante, desferindo-lhe golpes, muitas vezes, de forma injusta – é a nossa língua. Um equino de grande porte, obstinado e que não quer cumprir com suas obrigações. Alega estar sempre cansado e se recusa a qualquer tipo de carga – nosso corpo. E por final, um mamífero carnívoro da família dos felídeos mais conhecido como leão, que sempre quer ser o rei, importante e vaidoso – nosso coração. Precisamos de complacência para ter domínios absolutos desses animais, tornando-nos desejáveis e sensatos, humildes e benevolentes, dominadores dessas temíveis forças estranhas.

domingo, maio 18, 2014

Oferta de emprego sem ganho salarial

      No outdoor colorido da esquina da praça uma mensagem interessante: Oferta de emprego. O candidato ou a candidata deveria trabalhar durante vinte e quatro horas de pé, podendo a cada três ou quatro horas, sentar-se por quinze minutos, no máximo. Nos dias de pico de trabalho, não haverá intervalos de descanso. Nos horários de refeição a candidata só poderia comer se, ao mesmo tempo fosse orientando os demais a sua volta, principalmente aqueles que ainda não dominam os talheres. A mobilidade que deve possuir é descomunal. Seu conhecimento exige informações da área da medicina, das áreas financeira e econômica. Seus comandados necessitam de ajudas praticamente o dia todo. Durante grande parte de sua vida, deverá ficar acordada por muitas noites, preparando alimentos ou simplesmente cuidando de pessoas. Não lhe será dado o direito de recusar a nada, mesmo que isso não seja sua filosofia de vida. Deverá aceitar malcriações, grosserias, insultos e até mesmo xingamentos. Não deverá revidar em nenhuma hipótese. Após noites mal dormidas deverá levantar-se e realizar os afazeres diários. Também, todo dia deverá preocupar-se com o comportamento e o aproveitamento escolar dos menores de idade, conhecendo um pouco de matemática, história e geografia. Todas as vezes que fosse questionada não poderia deixar de ser carinhosa e benevolente. Seu trabalho diurno deverá ser terminado dentro de suas vinte e quatro horas, não podendo ser transferido para o dia seguinte, mesmo que para isso tenha que extrapolar a potencialidade dos músculos. Nas festas de fim de ano ou em dias de feriados seu trabalho poderá ser dobrado e os intervalos de descanso não poderão ser utilizados. Muitas vezes ficará exposta nos ambientes de labor a temperaturas insuportáveis, mas isso jamais será motivo de reclamações trabalhistas. Que isso fique bem claro. Ah.. O tempo para dormir será sempre muito curto porque o trabalho com os subordinados é quase interminável. Férias e décimo terceiro? Nem pensar. Isso é coisa de desocupados, de mesquinhez profissional e por que não dizer vagabundice? Bem, na parte de baixo do outdoor estava escrito em letras grandes e destacáveis: salário – nenhum centavo. Um indignado bebum passando pelo local, escreveu: “Para enfrentar isso só se for a mãe.” Pois é isso mesmo, só as mães têm a nobreza de enfrentar tudo isso todos os dias com o salário do nada. Nossas homenagens a todas elas que todos os dias realizam essa difícil jornada sabendo que vale a pena realizá-las pela felicidade de seus filhos. Obrigado minha mãe por ter feito tudo isso. Peço-te desculpas porque nosso tempo foi curto para eu poder agradecê-la pelo seu sacrifício.

Do outro lado da janela

As pessoas só conseguem enxergar as coisas obedecendo a sua ótica de visão, respeitando seus próprios interesses. Acho isso próprio do ser humano. Mas não deveria ser tão somente assim. É muito importante saber entender também a forma que os outros enxergam. De agora em diante passe a observar melhor seu próprio jeito. Não te parece que o mundo sorri apenas para você? Não tem a impressão que os que te cercam sempre são possuidores de meia verdade? A tua te aparenta mais lógica. Não te parece que a plena verdade é um privilégio só seu? Pois bem, se você pensa dessa forma trate de pensar em mudanças. Todos têm razão no que falam, basta que entendamos a sua realidade. Muitas vezes as pessoas blasfemam e nós as julgamos fora dos parâmetros, nunca sentimos a justa dimensão de seus problemas. É preciso aprender a respeitar o ponto de vista dos outros, a verdade não é propriedade somente nossa. Certa ocasião li um texto bastante reflexivo que sintetizava exatamente o respeito que é preciso ter pelo ponto de vista dos outros. Uma jovem senhorita comentava num depoimento de estudos em grupo, entre pessoas da mesma idade, quando faziam reflexões sobre a forma que cada um vivia seu mundo. Dizia ela que tinha um relacionamento muito difícil com seu pai. Pouquíssimas vezes conversavam dadas as desnecessárias discordâncias que tinham. Um belo dia surgiu uma feliz oportunidade de viajarem juntos de carro e ela imaginou que seria essa uma ótima ocasião e um bom momento de ficar mais próxima de seu pai. Durante a trajetória da viagem, seu pai, que dirigia o veículo, comentou sobre a sujeira e degradação de um pequeno riacho que paralelamente acompanhava a estrada dos dois lados. A jovem, na ânsia de concordar com seu velho pai, olhou para o córrego a seu lado e viu águas cristalinas, verdadeiro cenário para uma linda paisagem no quadro. Naquele momento teve a absoluta certeza de que ela e o pai não tinham as mesmas aptidões para enxergar a vida. Sem atropelar o silêncio seguiram viagem sem mais uma única troca de palavras. Alguns anos depois a jovem já com as marcas do tempo no rosto repetiu aquela viagem, mas desta vez acompanhada de uma das maiores amigas, dessas que se tem o privilégio de escolher na vida. Estando agora ao volante, surpreendeu-se ao observar que do lado de quem dirigia, o riacho era realmente horrendo e poluído. Exatamente como seu pai lhe havia comentado, contrariando o belo córrego do lado direito de quem ocupa o assento do acompanhante. Uma tristeza profunda lhe abateu sobre seu peito por ela não ter levado em consideração o comentário do seu progenitor que a esta altura já não mais pertencia do seu convívio. Parece inacreditável, mas é isso que acontece todos os dias. Só sentimos e só temos olhos para o que mostra a nossa janela, nunca a janela do outro. O que vemos é o que tem valia, não importa que alguém bem próximo esteja vendo coisa diferente. A mesma estrada, para uns é infinita, para outros, termina logo ali. Para uns, o  pedágio sai caro, para outros nem se lembra do que pagou. Grande parte dos brasileiros acredita que o país melhorou, enquanto que a outra perdeu totalmente a  esperança. Muitos aplaudem a tecnologia como um fator de evolução, outros lamentam que a distância entre as pessoas a cada dia é mais fria e mais distante. Alguns enxergam nossa  cultura parada no tempo, enquanto outros aplaudem uma diversidade absoluta. Cada um gruda o  nariz para o lado que olha e só enxerga sua própria paisagem. É preciso observar sempre que possível o ângulo de visão do vizinho, embora isso possa nos confundir um pouco sobre as nossas certezas, mas nos faz refletir melhor. Nem sempre a verdade caminha conosco. Dependendo de onde estejamos a razão pode estar do nosso lado, mas poderá deixar de ser nossa assim que trocarmos de lugar. A ninguém foi dada a possibilidade de ver ao mesmo tempo e sozinho os 360 graus da vida. A sabedoria recomenda sempre que é preciso ouvir primeiro para depois falar. Sejamos menos prepotentes nas nossas falas e atitudes. Todos estarão certos e todos estarão errados dependendo de onde se esteja e com quais olhos se analisa. É preciso olhar sempre pelos dois lados da janela.

Forças estranhas

Os homens foram moldados à semelhança da perfeição, mas não tem sido fácil isso. Cada um de nós traz por dentro forças incríveis que nem mesmo os estudiosos conseguem entender e decifrar. Somos todos heróis, embora poucos fossem capazes de aproveitar a potencialidade que têm. Quando cremos temos fé, quando temos fé temos domínio e equilíbrio absoluto. Um dos atributos que nos faz ter essa virtualidade é a calma. Para conservá-la é preciso possuir o hábito de não dramatizar nada, nem mesmo tornar trágico as coisas simples por natureza. Sem esse controle ninguém poderá pretender o domínio das coisas e muito menos das pessoas. A isso a ciência denomina administração. A calma nos dá a certeza de que estamos no caminho certo. A inquietação dos apóstolos quando os problemas de grande magnitude aconteciam, eram abafadas pelo olhar tranquilo e sereno do Mestre. Nem palavras precisavam ser ditas. Para se manter sereno é preciso aprender a ter competência e sabedoria. Uma pessoa intranquila jamais terá autoridade em situações de desequilíbrio. Aqueles que conseguem administrar seus limites jamais desperdiçarão de uma só vez todas suas energias, a ponto de não tê-las no exato momento do necessário. O autocontrole é uma técnica que amplia a liberdade de cada um. Se tivermos uma infinidade de coisas para fazer com um menor tempo para executá-las, administremos o tempo então, começando por fazer as coisas mais importantes e deixar que as de menor importância fiquem para depois. Não podemos de pronto aceitar a ideia de que não somos capazes, para que isso não se torne uma obsessão e cada vez mais nos tornarmos escravos dessa afirmativa, acabando por acreditar nesse falso estado de coisas. Não é fácil a nossa luta. Existe dentro de cada um de nós um zoológico de forças contrárias. Dois ferozes falcões que se lançam sobre tudo que aparece, não se importando se isso possa nos fazer bem ou mau. É preciso domá-los para que se fixem sobre coisas preciosas e de grande valia – são nossos olhos. Duas enormes águias com garras implacáveis e afiadas querendo a qualquer custo destroçar o que nelas tocam. Temos que treiná-las para que sejam úteis e nos ajudem todos os dias - são nossas mãos. Dois animados coelhos que teimam em adentrar onde lhes agrada, fugindo de toda e qualquer dificuldade. Temos de ensinar-lhes a permanecerem cadenciados e serenos – são nossos pés. Uma ferocíssima serpente, apesar de constantemente presa entre 32 barras de ferro, está sempre pronta a envenenar o semelhante, desferindo-lhe golpes, muitas vezes, de forma injusta – é a nossa língua.  Um equino de grande porte, obstinado e que não quer cumprir com suas obrigações. Alega estar sempre cansado e se recusa a qualquer tipo de carga – nosso corpo. E por final, um mamífero carnívoro da família dos felídeos mais conhecido como leão, que sempre quer ser o rei, importante e vaidoso – nosso coração.  Precisamos de complacência para ter domínios absolutos desses animais, tornando-nos desejáveis e sensatos, humildes e benevolentes, dominadores dessas temíveis forças estranhas.

Professor Manuel Ruiz Filho


sexta-feira, abril 25, 2014

Quem é esse homem

Perguntas ecoavam por todos os cantos do Oriente Médio ainda hoje chamado de Palestina. Os senhores da situação e donos do tempo perguntavam constantemente: Quem é esse cidadão? De onde ele vem? Não podemos acreditar que essa criatura tão estranha, tão cheia de exigências possa vir mudar nossas vidas! O que pensa ele que é? Um predestinado? Um salvador da humanidade? Duvidemos disso. Diziam eles que o homem valorizava os escravos, as crianças e as mulheres. A estas deu religião e respeito. Deu o direito de testemunharem, condição negada até então. E mais, sacou qualquer tipo de condenação que lhes pudessem ser injusta; expulsou vendilhões dos templos; restituiu a saúde de enfermos, leprosos e cegos aos sábados, dia impróprio a qualquer atividade; esse cidadão não se defende quando o insultam, onde está seu brilho? Pois é, foi Ele mesmo que deu um depoimento dos mais significativos que se possa conhecer. No momento de Sua despedida entregou às pessoas que lhes eram próximas todos os seus pertences orientando a cada um deles como deveriam ser aproveitados. Disse o Mestre: “Eu, Jesus de Nazaré, vendo próxima a minha hora e estando na posse das minhas plenas faculdades para assinar este documento, desejo repartir os meus bens entre as pessoas que me são próximas. Como cordeiro e sendo entregue para salvação da humanidade, creio conveniente repartir entre todos vocês. E assim deixo-lhes todas as minhas coisas que desde o meu nascimento estiveram presentes na minha vida e a marcaram de um modo significativo: A estrela, aos que estão desorientados e necessitam ver claridade para continuar em frente. Que ela possa guiar seus passos e com ela possa guiar de outros. O lugar da manjedoura, aos que não têm nada, nem sequer um local para se albergar ou um fogo onde se acalentar. Minhas sandálias são suas. Entrego àqueles que desejarem empreender um caminho novo e aos que estiverem sempre dispostos a ensiná-lo a outros. A bacia, onde lhes lavei os pés, para quem quiser servir, para quem desejar ser pequeno diante dos homens, pois será grande aos olhos de meu Pai. O prato, onde parti o pão é para os que se propuserem a viver em fraternidade, para os que estiverem dispostos a amar acima de tudo. O Cálice, deixo-o aos que estiverem sedentos de um mundo melhor e de uma sociedade mais justa. A cruz, para todo aquele que estiver disposto a carregá-la como parte de sua história. Minha túnica, a todo aquele que queira dividi-la com quem dela necessite. Também quero deixar como legado à humanidade inteira, as atitudes que me guiaram na vida, atitudes que eu quero que guiem também vossas vidas. Minha palavra, e todo ensinamento confiado por meu Pai, a todo aquele que a escutar e a puser em prática. A alegria, a todos aqueles que desejarem partilhá-la. A humildade, para quem estiver disposto a trabalhar em favor de todos meus irmãos. Meu ombro, a toda criatura que necessite de um amigo em quem possa reclinar a cabeça quando abatido pelo cansaço, para ganhar forças e continuar sua caminhada. Meu perdão, para aqueles que dia após dia, pecado após pecado, saibam retornar aos anseios do meu Pai. Naturalmente, sinto especial predileção pelos menos privilegiados. Tudo isto e ainda mais quero deixar-lhes, mas, sobretudo, é a minha vida que lhes ofereço. Sou eu mesmo, que fico convosco para continuar caminhando juntos, partilhando preocupações e problemas, mas também alegrias. Transmito-lhes a vida, mas vós também podeis transmiti-la. Mantenham-se unidos e amem-se de verdade. Eu vos amei ao extremo e vos levo no Meu coração. Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim de todos os tempos.

A doce ternura da infância

Numa bonita manhã de sol quando me postava comodamente sentado num desses bancos de encostos curvos de jardim, coberto de primaveras coloridas em rosa choque, aproximaram-se de mim quatro ou cinco crianças. Conversavam despreocupadas e inocentemente discutiam assuntos de seus domínios e que eu achei muito interessante. Encantei-me com o que via e ouvia. Uma das crianças perguntava às outras se conheciam o novo coleguinha do bairro, menino humilde, educado e cheio de graça. Cabelo negro e curto, bem aparado e com um pequeno redemoinho do lado direito que lhe dava um toque infantil todo especial. Dentes perfeitos. Um doce de criança. Unanimemente responderam que não conheciam. Mas as perguntas sobre essa criança foram uma chuva de curiosidades. Coleciona borboletas? Roda pneu nas calçadas? Sabe assobiar sem colocar apito na boca? Tem cachorrinho lulu em casa? Sabe contar historinhas do Mickey? Conhece Chapeuzinho Vermelho, Pinóquio e a Fada Madrinha? Tem bolinhas de gude no bolso? Sabe pular amarelinha? Sabe jogar trilha? Conhece a magia do ‘passar anel’? Brinca de piqui? Solta balão? Roda pião? Sabe recitar? Que cor é a casa dele? Tem quintal grande com flores no parapeito das janelas? Bem, se ele sabe, se ele tem, se ele brinca com tudo isso, comentou o menino que trouxe a notícia: é mais um amiguinho que ganhamos na turma. Vamos visitá-lo e saber como é sua mamãe. Será brava? Deixará a gente brincar juntos? Tudo isso me fez pensar como são inocentes todas as crianças longe da adolescência. Como elas se diferem nos modos, no jeito, na forma de agir dos adultos. O assunto acabou entre aquelas crianças e elas foram embora. Continuei no banco a balançar a cabeça e a pensar como as pessoas nascem puras de coração e alma. Confesso que tive inveja dessa fase tão significativa que vive os pequeninos. Vontade imensa de mandar embora a frieza e a praticidade que o mundo adulto me impregnou ao longo dos anos. Que saudosa lembrança eu tive de voltar a ser chamado de ‘meu menino’. A vida é assim, não tem volta. Por isso precisamos deixar nossas páginas bem escritas e sem erros. Para me deixar ainda mais encabulado e surpreso, aproximaram-se do mesmo lugar onde as crianças estavam quatro ou cinco rapazes, de postura adulta e se puseram a tecer comentários dos mais diversos. Por incrível que pareça um dos assuntos deles era o mesmo dos ausentes infantis. O linguajar era outro, claro. Perguntas sobre a nova garota recém-chegada ao bairro. De onde ela veio? Tem namorado? Será que topa ir à balada conosco? O pai é rico? Que formação tem? Quanto ganha? Que ano e modelo é seu carro? Será que possui milhões em banco? Tem formação superior? Casa confortável? Piscina? Dança? Conhece o exterior? Cabelos longos? Saia curta? Os adultos perdem o encantamento das crianças assim que a barba lhes cobre o rosto ou suas axilas já podem ser depiladas. Pouco há o que fazer com eles. Fico perplexo hoje quando ouço o som dos carros que andam. Nem precisam ser do último tipo, mas o som de dentro deles é insuportável para os tímpanos. Creio eu, que essa geração vai migrar muito cedo para uso de aparelhos auditivos. Têm ganância pelo supérfluo, pelo menos justo, pelo impossível. Quanto tempo o exemplo dos pequeninos vai demorar a incutir nesses adultos as lições que precisam aprender! A criança é um exemplo de conduta. Tem colo que acolhe, tem braço que envolve, tem palavra que conforta, tem silêncio que respeita, tem alegria que contagia, tem lágrima que corre, tem olhar que acaricia, e melhor, tem um doce amor no pequeno coração que possui.

A dramaturgia perde um pedaço de si

Nesta semana que passou a dramaturgia perdeu um de seus braços. Sai de cenário para sempre José Wilker, sem dúvida, um exemplo de profissional como tantos outros que se foram ou que aqui continuam conosco. Substituto para ele não tem, como não há para ninguém quando parte deste mundo. Seu legado é de tamanho incomensurável. Cremos nós, que a morte não encerra o espetáculo. Não é e nem pode ser o fim de tudo, mais que isso, um começo de outra existência. Na morte o corpo físico vai embora dando lugar a um corpo místico, que chamamos de alma. A criatura humana desaparece, mas alguma coisa a substitui mostrando que tudo não acabou. Alguém deve se apresentar e dizer: Eu sou a alma. No túmulo, nada mais ficou do que minhas vestes. A vida que recebi de Deus continua. O assopro divino é eterno e não momentâneo. Quando Ele me assoprou a vida o foi para sempre. Agora eu respiro outros ares. Não sinto dores. Aspiro ar livre e só vejo luz. Assim somos nós. Quando enclausurados, não duvidemos da luz lá fora e nem da liberdade grandemente sonhada. Nunca nos será permitido duvidar de qualquer hipótese de futuro. O além será sempre uma surpresa, mas, com certeza, das melhores. A alma não tem fronteiras, portanto não fica restrita a apenas um pedaço de chão que os homens apelidaram de Terra. Nosso corpo físico está mais para matéria distorcida do que propriamente um ser humano perfeito. O trabalho de Deus foi criar a alma, essa sim é igual e perfeita em todas as criaturas. Se não a possuirmos dentro do corpo estaremos definitivamente mortos. No mundo da coisa física amanhece e anoitece todos os dias, no mundo do corpo místico só existe claridade. Uma célebre frase de Vitor Hugo diz: “A alma, que estava vestida de sombra, vai ser vestida de luz. A vida é o poder que tem o corpo de manter a alma sobre a terra, pelo peso que faz nela”. As almas mudam de endereço e vão curtir outra vida no mundo da luz, para muito além de qualquer tipo de sombra. Com certeza, muito mais perto do ponto de reunião no infinito, onde Deus nos aguarda como filhos. Esse é o lugar onde o Criador encontra a criatura. Muitos consideram um desastre a última viagem, mas nos parece mais uma simples mudança. Não tememos a nossa jornada em direção ao infinito do sempre. Vamos acreditar que fizemos o melhor de nós enquanto aqui estivemos, porque isso é valioso, nos preparando para a grande viagem ao eterno, onde, sem dúvida, o grande artista brasileiro José Wilker acabou de chegar.

sábado, abril 05, 2014

Um dia de lembranças

Dia desses, revendo uma dessas gavetas que a gente pouco observa o que têm, encontrei uma camisa axadrezada, de quadrículas azuis turquesa, embaixo de outras vestimentas fora de uso que ali ficam postadas. Essa camisa tem um significado extremamente importante para mim. Quando a toquei, revi parte da minha história que o tempo havia amarelado e colocado no esquecimento. Assim como ele faz implacavelmente com a memória do dia a dia de cada um de nós. Na medida em que escrevemos a nossa história, o tempo inocentemente apaga. Recordo-me que meses antes de minha mãe partir para o sempre, me disse que iria comprar um tecido e fazer uma camisa para eu usar quando fosse para o campo em busca de guabirobas. Aquela fruta saudável e saborosa que a criança moderna não conhece. A camisa é de pano comum, desses que você encontra em qualquer loja que ainda vende tecidos a metro. O significado dessa camisa é de uma grandeza sem tamanho. Minha mãe era uma senhora de prendas domésticas incalculáveis, como a maioria do seu tempo. Fazia guloseimas de todo tipo. Ninguém conseguia sair de minha casa sem que experimentasse algum tipo de doce feito no fogão à lenha, ou naquele forno redondo de tijolos e barro comum que ela mesma construiu sobre um tablado de madeira rústica, coisa daqueles tempos. Saudades da sua forma de ser, tão comum, mas de habilidades incomparáveis. Utilizando-me da analogia, na confecção da camisa naquele rústico tecido, essa mulher usava toda sua sabedoria, revigorando e reforçando as costuras de proteção à vida de cada um de seus filhos. Era protetora de todos, nos empurrava a enfrentar a vida encarando todo tipo de adversidade que o tempo nos impunha. Suas habilidades, no alinhavo da minha camisa uniam as partes do molde e não esquecia que cada uma delas era diferente da outra e que juntas fazia um todo perfeito, assim como nossa família naqueles tempos, necessitava. Demonstrava enorme preocupação ao fazer cada vestimenta, assim como se preocupava que crescêssemos impedidos de desfrutar dos mais puros e livres ideais. Suas mãos, sempre que necessário, remendavam todas as partes desarranjadas de nossas roupas, porque era sua pretensão não permitir que caminhássemos de coração em fiapos ou postados no último lugar de qualquer uma das filas. As mãos de minha mãe juntavam pedaços de pano comum, de todo tipo e de todas as cores, para que tivéssemos uma manta única e nos cobrisse na medida de nossas necessidades. As mãos de minha mãe mantinham em suas palmas presilhas e botões, segurando-os um grudado ao outro para que continuássemos unidos e nunca perdêssemos a esperança por maiores que fossem as dificuldades enfrentadas. As mãos de minha mãe aplicavam elásticos às roupas, quando necessários, para que pudéssemos nos adaptar a todo tipo de inconveniência e fôssemos flexíveis às exigências do tempo e da modernidade. As mãos de minha mãe bordavam maravilhas em tecidos, assim como queria ela que a vida nos desse de presente todas as suas dádivas de embelezamento. As mãos de minha mãe sempre coseram bolsos para guardar neles moedas cunhadas por nossas melhores recordações e por nossas identidades. Quando calada, zelava pelos nossos sonhos e nos alimentava com ideais de um pó mágico que tinha o binômio de dignidade e grandeza. As mãos de minha mãe seguravam-nos com linhas mágicas de costura, nos fortalecendo, para que quando entrássemos na vida adulta tivéssemos a certeza de bem vesti-la. É claro que você deve estar se lembrando de sua mãe também. Se ela se foi como foi a minha, deve ter lembranças saudáveis assim como eu. Se ainda a tens, valorize seus dias e reconheça nela a sua melhor companhia. Sei muito bem que as mãos de minha mãe onde quer que estejam hoje continuam orando por mim e por todos seus filhos. Neste momento eu as beijo como se com isso eu pudesse receber mais uma vez sua a santa bênção.

quarta-feira, março 26, 2014

É preciso aprender decidir quem gostaríamos de ser

O ‘dia final’ parece ser um trágico acidente na vida das pessoas. Quase todos pensam dessa forma. Poucos estão acostumados a ligar essa situação a uma forma de renovação. A despedida definitiva precisa também ser encarada pelo lado positivo. É uma metamorfose. Toda semente morre para dar vida a uma nova planta. A ignorância morre para nascer dentro de você, a sabedoria. A morte pode ser o começo do novo e do esperado. É um marco onde os sonhos ocupam o espaço ainda não experimentado. É mudança na essência da palavra. É preciso adentrar em processos de transformação para melhor. Mate o estudante descompromissado que está sendo e faça renascer o profissional da melhor qualidade que o mercado procura. Acabe de vez com o ser preguiçoso que fica alojado dentro de você, que não te deixa caminhar atrofiando seus músculos e tornando mórbidas suas atitudes. Desencarne-se desse ser incrédulo que às vezes tem sido e deixe aflorar a belíssima criatura que o mundo precisa. Deixa de ser esse pai insensato, sem paciência e passe a ser o pai afetuoso e compreensivo que todo bom filho precisa. Elimine de uma vez por toda sua insegurança, seu orgulho e sua imaturidade deixando florir planos de uma vida cheia de espaços e projetos novos, capazes de beneficiar todos aqueles que esperam dividir a vida contigo. Mate a vingança, a mágoa e a deslealdade que te acompanha no dia a dia e faça renascer a humildade, a alegria e a vontade de ser útil às pessoas. Elimine, sem chances de volta, essa vontade de manipular os outros conforme tem agido e deixe o respeito ao próximo tomar conta do seu coração. Deixe de ser só “eu” e passe ser um pouco de “nós”. Isso vai te fazer bem porque elimina o egoísmo doentio que tem dentro de você, que te persegue infinitamente. Todos, a sua volta, vão adorar essa mudança. Deixa de ser esse casulo parasita que tem sido, transforme-se numa borboleta cheia de vida e de cores. Não fique agarrado a esse passado sombrio, nasça outra vez, ainda hoje. Elimine a estupidez, essa coisa exclusivista que te leva a imaginar uma referência a tudo, com uma vaidade excessiva e pretensiosa. Seja altruísta. O altruísmo é virtude restrita dos homens nobres e incomuns, capazes de compreenderem o mundo do ponto de vista da benevolência. Deixa nascer em você um protótipo semelhante ao que o Criador esperou. Vislumbre-se diariamente com uma criatura nova, cheia de sonhos e de glórias. Troque, agora se possível o que você foi pelo que pode ser. Desvista-se do ontem e transforme-se no hoje tão esperado. Aprenda que quedas são estímulos para se levantar com dignidade e coragem. Para sentir o mundo como ele é será preciso ter os pés no chão e sair dessa arrogância e prepotência que sempre carregas. Descubra que as sombras que te seguem nada mais são do que o reflexo negro da sua própria alma. Aprenda, para nada pode servir o seu conhecimento se não tiver com quem compartilhá-lo. Que para fazer qualquer coisa é preciso arcar com as responsabilidades das quedas. Deixe de se importar com quem ganha ou com quem perde para importar-se com aqueles que produzem o bem. A partir daí sim, será racional sua recusa a qualquer tipo triunfo incolor que te possa seguir. Valorize com intensidade sua luta, aprendendo a decidir sobre quem melhor gostaria de ser.

quinta-feira, março 20, 2014

A pequena face de Laura

Meses atrás, encontrei-me com um dos filhos. Pai, disse ele, eu trouxe um presente para você. Comovi-me, mas como meu filho é muito de fazer surpresa, não estranhei e esperei a notícia com alegria. Entregou-me um pacote com um papel brilhante que tinha uma caixa azul dentro dele. Embrulhada como se faz com presentes. E era. Desembrulhei com carinho e veio a grande surpresa. Um macacãozinho de bebê. Esposa grávida. Como eu sempre tive esperanças de ser mais uma vez avô, eu não sabia o que fazer de tanto contentamento. Até então, apenas uma notícia de gravidez. O tempo passou e uma nova notícia chegou: Pai, eu fiquei sabendo hoje. É uma menina. Será batizada com o nome de Laura. Que lindo nome, filho. Busquei nos livros o significado desse nome. ‘Uma pessoa muito calma e simpática. Tem muita delicadeza, sabe se expressar muito bem, é uma verdadeira princesa quando se trata de bons modos, gosta de ajudar as pessoas e se envolve muito em atividades em que seja voluntária, é simples e mesmo tendo condições financeiras não deixa que isso afete seu modo de pensar e agir, sua ideologia é que a vida deve ser aproveitada de forma simples, cada momento é importante para o ser humano e que isso enriquece a alma’. Muito me animou a informação que encontrei. Os pais de Laura ainda não acreditam que têm nas mãos os destinos de uma nova vida. A Laura enriqueceu um lar que já era lindo, mas faltava o toque infantil que só as crianças sabem fazer. Com certeza, meu filho e sua esposa terão todas as alegrias que tive por duas vezes. O primeiro sorriso, a primeira palavra, o primeiro dentinho, o primeiro mamãe, o primeiro papai, o primeiro aninho e o primeiro dia de aula. Serão tantos primeiros que o tempo é insuficiente para que lembremos sempre de todos. Ser pai... Aí, eu fico a pensar... Que mistério é este que se junta ao perfume e nos transporta à presença de Deus! Que mistério é este que não importa a época em que é consumado traz um sentimento que nada consegue definir. Que mistério é este que quando ouvimos a voz pela primeira vez somos capazes de melhor entender o mundo... Que mistério é este que nos hipnotiza e nos enobrece apenas com o fato dele acontecer... Que mistério é este que arranca de dentro de nossos corações momentos indecifráveis... Que mistério é este que tenta e consegue tirar a todo custo um instante mágico de nossas vidas... Um momento lindo, raro com certeza, que talvez não se consiga imaginar outro. Laura, minha netinha, seu avô te espera com o dobro da alegria e esperança que um dia esperou seu pai. Que você seja mais uma flor nesse jardim tão lindo que se chama vida. Que todos aqueles que de ti se aproximarem possam enxergar a luz que te trouxe e a bênção de que você será mais um ser humano a encantar este mundo.

Palavras que exalam perfumes

São poucas, mas valiosíssimas. A gente sempre espera que as pessoas as digam com frequência, mas isso pouco acontece. Grande parte da sociedade contemporânea pouco se lembra delas e outra parte nem aprendeu. A juventude continua carente de todas, são poucos os jovens e adolescentes que as pronunciam no dia a dia. Muito obrigado, por gentileza, me dê licença, por favor, são binômios e trinômios perfumados pouco ouvidos nos últimos tempos, lamentavelmente. A sociedade de forma geral perdeu os bons costumes pela forma que vive. Dificilmente os pais têm percebido o pouco de educação que têm passado aos filhos nesse sentido. Na maioria das vezes os pais têm deixado esse ensinamento para as escolas e as finalidades desta é alfabetizar e profissionalizar. A educação propriamente dita precisa ser praticada pela família. Se os adultos deixaram de praticar esses hábitos imagina você o que será dos filhos. É muito mais fácil passar às crianças o ensinamento da ‘lei da vantagem’ do que perder tempo para ensiná-las. Os pais pouco percebem que mais preparam os filhos para se defenderem e atacarem na medida do que forem atacados. De forma geral a reação das crianças hoje é muito mais agressiva do que pacífica. Aprendem facilmente as manhas da ofensa e agridem como se os semelhantes fossem bonecos de guerra, gerados pelos brinquedos da indústria ‘videogameana’. Dar seu lugar a um idoso no ônibus, nem pensar... Por que ele não chegou primeiro? Agradecer um favor recebido, para que? Se ninguém o faz eu também não sou obrigado a fazê-lo. Essa é a tônica que enfrentamos todos os dias. As escolas tentam repassar aos seus alunos os bons costumes, mas não é essa a sua tarefa. A educação é responsabilidade dos pais. Fico feliz quando vejo uma criança encaminhada às igrejas em busca de religiosidade. Se quisermos amanhã uma sociedade madura é nossa responsabilidade fazer com que isso aconteça. Um dia, não me recordo quando, meu vizinho me liga dizendo que tinha uma criança destruindo algumas flores que eu havia plantado no lado de fora da minha residência. Saí na frente da casa e realmente um menino de uns 10 anos, mais ou menos, enquanto conversava com um coleguinha, destruía algumas plantas exposta do lado de fora do muro. Cheguei perto e disse: Tudo bem? Posso te dizer uma coisa? Sim, respondeu ele. Você sabia que eu plantei essas flores aí para enfeitar o caminho das pessoas que passam? Para que quando todos aqui passassem tivessem um ambiente mais alegre. Você acha correto arrancar as plantas? Educadamente ele respondeu: Não senhor. Saiu lentamente e com o coraçãozinho entristecido, foi o que eu percebi. Para minha surpresa, 30 minutos mais tarde aparece o menino com uma planta na mão para que eu colocasse no lugar daquela que ele havia arrancado. Mais que depressa eu o agradeci e pedi a ele que me ajudasse a plantá-la. Plantamos juntos. Pena que não guardei o nome dessa criança. Pelo tempo que faz, deve estar moço hoje, mas com certeza deve ter sido um orgulho dos pais que infelizmente não conheci.

Ele doou tudo que tinha

Perguntas ecoavam por todos os cantos do Oriente Médio, região hoje denominada de Palestina. Os senhores da situação e donos do tempo constantemente perguntavam: Quem é esse homem? De onde ele veio? Não podemos acreditar que essa criatura tão estranha, tão cheia de exigências possa vir mudar o rumo das coisas! O que pensa ele que é? Um predestinado? Um salvador da Humanidade? Como pode uma criatura valorizar tanto as mulheres, os escravos e as crianças? Deu às mulheres religião e respeito, também o direito a testemunharem, condição negada até então. E mais, sacou-lhes da condenação à ignorância. Expulsou vendilhões dos templos, restituiu aos sábados, dia impróprio a qualquer atividade, a saúde de leprosos e paralíticos, aos cegos restituiu-lhes a luz e aos mudos o dom da palavra! Esse cidadão não se defende quando o insultam, onde está seu brilho? Pois é, foi ele mesmo que fez uma oferenda das mais significativas que se possa conhecer. No momento de sua despedida entregou às pessoas que lhes eram próximas todos os seus pertences, orientando como cada um deles deveriam ser aproveitados. Disse Jesus de Nazaré: “Vendo próxima a minha hora e estando na posse de minhas plenas faculdades para consumar a minha vontade, desejo repartir meus bens entre as pessoas que me são próximas. Assim, creio ser conveniente dividir com todos, deixando-lhes tudo que esteve presente em minha vida de forma significativa desde o meu nascimento. A ‘estrela guia’ deixo aos que estão desorientados e necessitam verem claros seus redores para continuarem em frente e a todo aquele que desejar ser guiado ou servir de guia. O lugar da ‘manjedoura’, deixo aos que não têm nada, nem sequer um local para se albergar ou um fogo onde possam se acalentar e falar com um amigo. As minhas ‘sandálias’ deixo àqueles que desejarem empreender uma caminhada sempre dispostos a plantar, sem mesmo saberem se a colheita poderá ser feita. A ‘bacia’ onde lavei os pés, deixo para quem quiser servir, para quem desejar ser pequeno diante dos homens, porque será grande diante dos olhos de meu Pai. O ‘prato’ onde parti o pão é para os que se propõem viver em fraternidade e para os que estiverem dispostos a amar, acima de tudo e a todos. O ‘cálice’, eu deixo aos que estiverem sedentos de um mundo melhor e de uma sociedade mais justa. A ‘cruz’, eu doou para todo aquele que estiver disposto a carregá-la e suportá-la nos ombros até que venham a mim. Minha ‘túnica’ eu deixo para os que saibam reparti-la com quem dela necessitar. Também quero deixar como legado a humanidade inteira as atitudes que sempre me guiaram na vida. A ‘minha palavra’ e o ‘ensinamento’ que me foram confiados pelo meu Pai servirá a todo aquele que bem a escutar e a puser em prática. Minha ‘alegria’ eu doo a todos os que desejarem vivê-la, assim como faço com a ‘humildade’ que foi a bandeira utilizada por toda minha existência. De coração, doo a quem estiver disposto a trabalhar em favor de cada um dos meus irmãos. Doou ainda, o meu ‘ombro’ a todo aquele que necessite de um amigo em quem possa reclinar sua cabeça abatida pelo cansaço. O meu ‘perdão’, eu doo para todo aquele que dia após dia, pecado após pecado, tenha força e vontade para retornar ao Pai. Amo a todos, mas sinto especial predileção pelos mais débeis. Deixo a eles a minha vida. Enfim, sou eu mesmo que fico convosco para continuarmos a caminhada juntos, partilhando preocupações, problemas e alegrias. Eu sou a vida, mas vós podeis transmiti-la a quem dela precise. Mantenham-se unidos e amem-se de verdade. Eu vos amei até ao extremo e vos levo no meu coração. Eis que estarei convosco todos os dias até o final de todos os tempos”.