domingo, novembro 17, 2013

Nascemos humanos, mas não humanizados

Podemos realizar milagres usando a fé como instrumento, mas não podemos nunca nos esquecer de que somos pouco humanos. Da forma como temos vivido jamais seremos chamados de humanos de forma discreta. A Humanidade tem perdido o equilíbrio sobre todos os tipos de vida e com isso tem mudado todos os nossos valores. Explora-se a pobreza e a isso chamam de sorte. Matam-se os filhos que ainda não nasceram e a isso chamam de livre escolha. Recompensa-se a preguiça e a isso apelidam de ajuda social. Executam-se os condenados e a isso chamam de justiça. Negligenciam-se com a criação dos filhos e a isso chamam de autoestima. Abusam de qualquer tipo de poder e a isso chamam de política. Cobiçam os bens dos semelhantes e a isso chamam de ambição. Contaminam todo tipo de mídia e a isso chamam de liberdade de expressão. Ridicularizam os valores estabelecidos nos tempos de ontem e a isso chamam de obsoleto. E depois dizem que somos humanos. Estamos mais para animais que usam o raciocínio a serviço do nada do que para qualquer outra coisa que algo signifique. É um estado desalentador e é preciso que urgente tomemos novos rumos e que nos tornemos humanos por todo o tempo. Bons exemplos precisam ser repetidos todos os dias. Não podemos ensinar aos filhos atitudes que no futuro lhes serão indesejáveis. Não raramente, aprendemos muito com quem pouco ou nada sabe, porque o repudiável ainda não foi sedimentado. Vou reconstruir, na minha ótica, uma história lida não me recordo quando, muito interessante. Não conheço do autor, mas a ele peço licença. Conto a você para que também reflita assim como o fiz. Uma menina entre seis e sete aninhos foi para o seu quarto pegar no fundo de um criado-mudo, com seu verniz desgastado pelo tempo, um vidro parecido com esses de maionese, arrancando de dentro dele algumas míseras moedas. Contou uma a uma, com muito cuidado porque a matemática ainda não havia se incorporado ao seu pequeno saber. Encheu sua pequena mãozinha com elas e saiu pela porta dos fundos em direção a uma farmácia de seu bairro. Aguardou ansiosamente a paciência do farmacêutico a lhe dirigir a palavra, porque no momento conversava com alguém ao telefone. A garotinha impaciente tossiu por mais de uma vez para chamar a atenção do velho senhor. Por fim, espalhou no balcão seis moedinhas de cinco centavos e com uma delas bateu no vidro onde se apoiava. - O que você quer? Perguntou o farmacêutico. - Bem, eu queria falar com o senhor sobre o meu irmão, respondeu a menina. Ele está muito doente, mas doente mesmo e eu vim aqui comprar um milagre. O farmacêutico estatelou os olhos e perplexo respondeu: Garotinha, nós não vendemos milagres aqui. Sinto muito, não creio que eu possa ajudá-la. - Eu tenho dinheiro aqui e se ele não der para pagar eu vou ver se ficou mais alguma moeda no meu cofrinho de vidro, retrucou a menina. Um senhor bem trajado que ouvia o diálogo, abaixou-se e perguntou à menina. - Que tipo de milagre seu irmão está precisando? - Não sei, respondeu ela. Só sei que ele está muito doente e a minha mãe disse que ele precisa fazer uma cirurgia, mas o meu pai é pobre e não tem como pagar, então eu queria usar o meu dinheiro. - Quanto você tem? Perguntou o senhor. A menina pediu para que ele se abaixasse e lhe falou aos ouvidos. Eu tenho trinta centavos de dinheiro, olhe aqui, mas eu posso buscar mais duas moedinhas que ficaram no meu cofrinho. Não tenho mais nada. - Mas que coincidência! Disse o senhor sorrindo. É exatamente esse o preço de um milagre para irmãozinhos. Pegando o dinheiro com uma das mãos e com a outra, a mão da menininha disse: Mostre-me onde você mora porque quero ver o seu irmão e conversar com os seus pais. Vamos ver se tenho o tipo de milagre que você precisa. Aquele elegante senhor era um dos maiores profissionais da medicina no campo da neurocirurgia. Operou e restabeleceu a saúde do menino sem nenhuma despesa para seus pais. Quando o menino voltou do hospital sua mãe fazia comentários em tom de alegria: - Aquela operação foi um milagre. Quanto será que custaria? - Trinta centavos respondeu sorridente a garotinha, mostrando-se alegre ao participar da conversa. Que história magnífica de amor ao próximo. É preciso agir de forma semelhante para que possamos nos sentir humanizados. Praticando ações solidárias dessa natureza copiadas de quem ainda não se desumanizou por nenhuma influência de ganância, ou qualquer outra nefasta alternância de comportamento é que poderemos construir um mundo melhor, nascendo humano e se mantendo humanizado por todos os dias de nossas vidas.

sexta-feira, novembro 08, 2013

Os desígnios de cada um

Certa vez, retornava eu de uma caminhada rumo ao meu lar e ao passar frente ao local de trabalho de um amigo resolvi visitá-lo. Esse é amigo mesmo, não apenas um conhecido. Entrei em seu mundo de labor e lá estava ele, sentado em sua cadeira de rotina, pensativo, debruçado em sua mesa de todos os dias. Cumprimentei-o como sempre e de pronto vi nos seus olhos uma tristeza infinita. Removi uma cadeira e me sentei. Puxei assunto, como de costume as pessoas de bem o faz quando se encontram. Pouco reagiu. Não me pareceu que a felicidade estava à flor de sua pele naquele momento. Tentei fazer comentários sobre negócios, banalidades e rotinas e ele não acompanhou. Preferiu ficar abraçado aos pensamentos que o vinha incomodando. Num dado momento, pediu meu telefone e de imediato inseriu o meu número em sua lista de chamadas. Abriu o peito e disse: outro dia me senti tão desolado e triste, sem saber o que fazer. Saí por aí com o carro sem rumo, sem saber por onde passar e nem para onde ir. Triste, me sentia como a insignificância diante de problemas intermináveis que tenho tido. Precisava falar com um amigo, urgente. Recorri a minha lista de chamadas onde se encontram mais de duzentos números agendados e não consegui elencar apenas um que pudesse me dar uma palavra amiga naquele momento. Lembrei-me de você, mas não tinha o seu telefone. Confesso que ao ouvi-lo choramos juntos. Meus olhos copiavam as lágrimas que saiam dos olhos dele. Naquele momento disse-me ele: “Por que será que Deus está me provando tanto? O que será que fiz pra Ele?” Há pouco tempo, você se lembra, dizia ele, entrei numa depressão enorme e ultimamente minha companheira passou por problemas de saúde, mas já está bem. Meu filho não é o melhor aluno da sala onde estuda. Em seguida, sem que ele pudesse respirar pos mais de três vezes, eu lhe disse: Você foi o melhor aluno da sua turma? Não, respondeu ele. Por que será que queremos que os nossos filhos sejam os melhores? Será que isso é o sucesso garantido? Claro que não. Nossos filhos devem ser bem educados, orientados, polidos, com exemplos e não somente com palavras. Gritos não resolvem. Do contrário, extrapolam nossas mensagens instrutivas. Meu querido e estimado amigo, a vida ainda é uma terra que ninguém pisou verdadeiramente, exceto Cristo. Por mais que os anos nos amoldem, por mais que a sabedoria nos achegue à porta, persistirá a incógnita dos nossos caminhos. Nosso tempo neste sagrado chão é bem curto. Enquanto uns chegam outros partem sem que se encontrem. É como o navio que avistamos mar afora, sumindo dos nossos olhos, diminuindo cada vez mais e se perdendo no horizonte, enquanto outros o enxergam chegando e aos poucos aumentando. É essa a nossa existência. Por mais que queiramos entender o significado de tudo não conseguiremos. Alguns pensam entender, mas é pura ilusão. O mistério ficou por conta das crenças que na sua grande maioria ainda o deturpa. Só Deus o entende. Nada será tão prejudicial para o ser humano que não tenha fim. Nossos caminhos são iluminados ainda que tenhamos dificuldade de enxergar a luz. A criatura humana que existe impregnada dentro de cada um terá que ter paciência e a nobre função de suportar seus desígnios.

segunda-feira, novembro 04, 2013

Esse não é o meu mundo

Quando as pessoas chegam ao mundo abastecem de felicidade seus lares. Os pais são os que mais se alegram com a nossa chegada. Nossos irmãos que chegaram antes também ficam felizes. Por muito tempo o encanto de nossa vinda fica impregnado em todos da nossa família. É muita alegria. Nosso primeiro, segundo e terceiro aninho são festas inesquecíveis. A cada dia somado em nossas vidas vamos amadurecendo em todos os sentidos. Mas ainda é cedo para sabermos quem somos e a que viemos. Tudo vai acontecendo a nossa volta, coisas boas e coisas ruins. Muitas pessoas vão se achegando ao nosso convívio e trazendo com elas experiências inigualáveis tanto para elas quanto para nós. Aos poucos nossa consciência vai amadurecendo e a partir daí os nossos julgamentos começam a fluir cada vez mais intensos. Começamos a perceber que a justiça não é tão justa como se apregoa. Que a riqueza tem conceitos muito diferentes para cada uma das pessoas do nosso meio. Percebemos que cada um sonha sonhos diferentes. Constatamos que o volume de bens produzidos por todos não é igualitariamente distribuído. A uns a ‘sorte’ parece ser mais amiga, a outros nem tanto. A certeza que tenho é que as pessoas se preocupam de tal maneira que, quando forem daqui embora, levarão todos os seus pertences. Ledo engano. Essas pessoas não chegaram à conclusão que todos os bens, sejam eles produzidos ou naturais apenas trocam de mãos. O que era de uma família passa a ser de outra. Imagine você que há duzentos anos todos os bens deste mundo pertenciam a pessoas diferentes, a famílias nada parecidas com as de hoje. Por melhor que possa ser a cada criatura não lhe é permitido levar nada, nem mesmo o que ela propriamente produziu. Os pecados são os únicos componentes dos alforjes. Esses sim irão amontoados as suas últimas vestes. Ninguém habita eternamente nesta casa, muito menos nesta rua. Um a um, chegará e sairá, não tenho dúvida disso. Alguns, nem tempo lhes serão oferecidos para distribuir suas riquezas antes de partirem. O meu mundo tem encantos que este mundo não tem. Nele a tristeza não mata. O preconceito não vive e a fome não existe. Ultimamente temos observado que as pessoas se preocupam com a vida dos animais que servem às pesquisas para melhorar a qualidade de vida do próprio homem, mas não se importam em adentrar restaurantes e saborear ‘deliciosos’ cortes de ovelha, de frango, de suíno ou bovino que foram simplesmente sacrificados sem chances nenhuma de sobrevivência. Nenhum ativista invade todo tipo de laboratório para levar camundongos para casa e os livrar da inconveniência dos testes. Não só animais, mas também as plantas, seres vivos do reino vegetal, nos abastecem de oxigênio e morrem queimadas ou de sede, porque ninguém tem plena consciência de seus benefícios. Neste abençoado solo a fumaça cancerígena é produzida para fabricar coisas inúteis, poluindo o planeta, ainda que poucos se importem. Aliás, isso acontece porque o homem tem muito pouco daquilo que a educação tem feito dele. Este não é o meu mundo porque ele tem pouco de mim. Discordo muito dos seus revezes. Alguém, aproximadamente há dois mil anos disse à tirania daquele tempo frase parecida: ”Meu reino não é deste mundo”. Perdoe-me Ele por usá-la neste texto, porque Seu teor é santo, e o meu meramente humano. Os homens, pela sua própria essência são próximos uns dos outros, quem os afasta, infelizmente é a educação que praticam. A cada dia mais me sinto desolado lendo manchetes desastrosas e desumanas praticadas por gente do meu tempo, por isso, decididamente percebo, que este não é o meu mundo. O meu é muito mais humano e encantado.