domingo, maio 18, 2014

Oferta de emprego sem ganho salarial

      No outdoor colorido da esquina da praça uma mensagem interessante: Oferta de emprego. O candidato ou a candidata deveria trabalhar durante vinte e quatro horas de pé, podendo a cada três ou quatro horas, sentar-se por quinze minutos, no máximo. Nos dias de pico de trabalho, não haverá intervalos de descanso. Nos horários de refeição a candidata só poderia comer se, ao mesmo tempo fosse orientando os demais a sua volta, principalmente aqueles que ainda não dominam os talheres. A mobilidade que deve possuir é descomunal. Seu conhecimento exige informações da área da medicina, das áreas financeira e econômica. Seus comandados necessitam de ajudas praticamente o dia todo. Durante grande parte de sua vida, deverá ficar acordada por muitas noites, preparando alimentos ou simplesmente cuidando de pessoas. Não lhe será dado o direito de recusar a nada, mesmo que isso não seja sua filosofia de vida. Deverá aceitar malcriações, grosserias, insultos e até mesmo xingamentos. Não deverá revidar em nenhuma hipótese. Após noites mal dormidas deverá levantar-se e realizar os afazeres diários. Também, todo dia deverá preocupar-se com o comportamento e o aproveitamento escolar dos menores de idade, conhecendo um pouco de matemática, história e geografia. Todas as vezes que fosse questionada não poderia deixar de ser carinhosa e benevolente. Seu trabalho diurno deverá ser terminado dentro de suas vinte e quatro horas, não podendo ser transferido para o dia seguinte, mesmo que para isso tenha que extrapolar a potencialidade dos músculos. Nas festas de fim de ano ou em dias de feriados seu trabalho poderá ser dobrado e os intervalos de descanso não poderão ser utilizados. Muitas vezes ficará exposta nos ambientes de labor a temperaturas insuportáveis, mas isso jamais será motivo de reclamações trabalhistas. Que isso fique bem claro. Ah.. O tempo para dormir será sempre muito curto porque o trabalho com os subordinados é quase interminável. Férias e décimo terceiro? Nem pensar. Isso é coisa de desocupados, de mesquinhez profissional e por que não dizer vagabundice? Bem, na parte de baixo do outdoor estava escrito em letras grandes e destacáveis: salário – nenhum centavo. Um indignado bebum passando pelo local, escreveu: “Para enfrentar isso só se for a mãe.” Pois é isso mesmo, só as mães têm a nobreza de enfrentar tudo isso todos os dias com o salário do nada. Nossas homenagens a todas elas que todos os dias realizam essa difícil jornada sabendo que vale a pena realizá-las pela felicidade de seus filhos. Obrigado minha mãe por ter feito tudo isso. Peço-te desculpas porque nosso tempo foi curto para eu poder agradecê-la pelo seu sacrifício.

Do outro lado da janela

As pessoas só conseguem enxergar as coisas obedecendo a sua ótica de visão, respeitando seus próprios interesses. Acho isso próprio do ser humano. Mas não deveria ser tão somente assim. É muito importante saber entender também a forma que os outros enxergam. De agora em diante passe a observar melhor seu próprio jeito. Não te parece que o mundo sorri apenas para você? Não tem a impressão que os que te cercam sempre são possuidores de meia verdade? A tua te aparenta mais lógica. Não te parece que a plena verdade é um privilégio só seu? Pois bem, se você pensa dessa forma trate de pensar em mudanças. Todos têm razão no que falam, basta que entendamos a sua realidade. Muitas vezes as pessoas blasfemam e nós as julgamos fora dos parâmetros, nunca sentimos a justa dimensão de seus problemas. É preciso aprender a respeitar o ponto de vista dos outros, a verdade não é propriedade somente nossa. Certa ocasião li um texto bastante reflexivo que sintetizava exatamente o respeito que é preciso ter pelo ponto de vista dos outros. Uma jovem senhorita comentava num depoimento de estudos em grupo, entre pessoas da mesma idade, quando faziam reflexões sobre a forma que cada um vivia seu mundo. Dizia ela que tinha um relacionamento muito difícil com seu pai. Pouquíssimas vezes conversavam dadas as desnecessárias discordâncias que tinham. Um belo dia surgiu uma feliz oportunidade de viajarem juntos de carro e ela imaginou que seria essa uma ótima ocasião e um bom momento de ficar mais próxima de seu pai. Durante a trajetória da viagem, seu pai, que dirigia o veículo, comentou sobre a sujeira e degradação de um pequeno riacho que paralelamente acompanhava a estrada dos dois lados. A jovem, na ânsia de concordar com seu velho pai, olhou para o córrego a seu lado e viu águas cristalinas, verdadeiro cenário para uma linda paisagem no quadro. Naquele momento teve a absoluta certeza de que ela e o pai não tinham as mesmas aptidões para enxergar a vida. Sem atropelar o silêncio seguiram viagem sem mais uma única troca de palavras. Alguns anos depois a jovem já com as marcas do tempo no rosto repetiu aquela viagem, mas desta vez acompanhada de uma das maiores amigas, dessas que se tem o privilégio de escolher na vida. Estando agora ao volante, surpreendeu-se ao observar que do lado de quem dirigia, o riacho era realmente horrendo e poluído. Exatamente como seu pai lhe havia comentado, contrariando o belo córrego do lado direito de quem ocupa o assento do acompanhante. Uma tristeza profunda lhe abateu sobre seu peito por ela não ter levado em consideração o comentário do seu progenitor que a esta altura já não mais pertencia do seu convívio. Parece inacreditável, mas é isso que acontece todos os dias. Só sentimos e só temos olhos para o que mostra a nossa janela, nunca a janela do outro. O que vemos é o que tem valia, não importa que alguém bem próximo esteja vendo coisa diferente. A mesma estrada, para uns é infinita, para outros, termina logo ali. Para uns, o  pedágio sai caro, para outros nem se lembra do que pagou. Grande parte dos brasileiros acredita que o país melhorou, enquanto que a outra perdeu totalmente a  esperança. Muitos aplaudem a tecnologia como um fator de evolução, outros lamentam que a distância entre as pessoas a cada dia é mais fria e mais distante. Alguns enxergam nossa  cultura parada no tempo, enquanto outros aplaudem uma diversidade absoluta. Cada um gruda o  nariz para o lado que olha e só enxerga sua própria paisagem. É preciso observar sempre que possível o ângulo de visão do vizinho, embora isso possa nos confundir um pouco sobre as nossas certezas, mas nos faz refletir melhor. Nem sempre a verdade caminha conosco. Dependendo de onde estejamos a razão pode estar do nosso lado, mas poderá deixar de ser nossa assim que trocarmos de lugar. A ninguém foi dada a possibilidade de ver ao mesmo tempo e sozinho os 360 graus da vida. A sabedoria recomenda sempre que é preciso ouvir primeiro para depois falar. Sejamos menos prepotentes nas nossas falas e atitudes. Todos estarão certos e todos estarão errados dependendo de onde se esteja e com quais olhos se analisa. É preciso olhar sempre pelos dois lados da janela.

Forças estranhas

Os homens foram moldados à semelhança da perfeição, mas não tem sido fácil isso. Cada um de nós traz por dentro forças incríveis que nem mesmo os estudiosos conseguem entender e decifrar. Somos todos heróis, embora poucos fossem capazes de aproveitar a potencialidade que têm. Quando cremos temos fé, quando temos fé temos domínio e equilíbrio absoluto. Um dos atributos que nos faz ter essa virtualidade é a calma. Para conservá-la é preciso possuir o hábito de não dramatizar nada, nem mesmo tornar trágico as coisas simples por natureza. Sem esse controle ninguém poderá pretender o domínio das coisas e muito menos das pessoas. A isso a ciência denomina administração. A calma nos dá a certeza de que estamos no caminho certo. A inquietação dos apóstolos quando os problemas de grande magnitude aconteciam, eram abafadas pelo olhar tranquilo e sereno do Mestre. Nem palavras precisavam ser ditas. Para se manter sereno é preciso aprender a ter competência e sabedoria. Uma pessoa intranquila jamais terá autoridade em situações de desequilíbrio. Aqueles que conseguem administrar seus limites jamais desperdiçarão de uma só vez todas suas energias, a ponto de não tê-las no exato momento do necessário. O autocontrole é uma técnica que amplia a liberdade de cada um. Se tivermos uma infinidade de coisas para fazer com um menor tempo para executá-las, administremos o tempo então, começando por fazer as coisas mais importantes e deixar que as de menor importância fiquem para depois. Não podemos de pronto aceitar a ideia de que não somos capazes, para que isso não se torne uma obsessão e cada vez mais nos tornarmos escravos dessa afirmativa, acabando por acreditar nesse falso estado de coisas. Não é fácil a nossa luta. Existe dentro de cada um de nós um zoológico de forças contrárias. Dois ferozes falcões que se lançam sobre tudo que aparece, não se importando se isso possa nos fazer bem ou mau. É preciso domá-los para que se fixem sobre coisas preciosas e de grande valia – são nossos olhos. Duas enormes águias com garras implacáveis e afiadas querendo a qualquer custo destroçar o que nelas tocam. Temos que treiná-las para que sejam úteis e nos ajudem todos os dias - são nossas mãos. Dois animados coelhos que teimam em adentrar onde lhes agrada, fugindo de toda e qualquer dificuldade. Temos de ensinar-lhes a permanecerem cadenciados e serenos – são nossos pés. Uma ferocíssima serpente, apesar de constantemente presa entre 32 barras de ferro, está sempre pronta a envenenar o semelhante, desferindo-lhe golpes, muitas vezes, de forma injusta – é a nossa língua.  Um equino de grande porte, obstinado e que não quer cumprir com suas obrigações. Alega estar sempre cansado e se recusa a qualquer tipo de carga – nosso corpo. E por final, um mamífero carnívoro da família dos felídeos mais conhecido como leão, que sempre quer ser o rei, importante e vaidoso – nosso coração.  Precisamos de complacência para ter domínios absolutos desses animais, tornando-nos desejáveis e sensatos, humildes e benevolentes, dominadores dessas temíveis forças estranhas.

Professor Manuel Ruiz Filho