No outdoor colorido da esquina da praça
uma mensagem interessante: Oferta de emprego. O candidato ou a candidata
deveria trabalhar durante vinte e quatro horas de pé, podendo a cada três ou
quatro horas, sentar-se por quinze minutos, no máximo. Nos dias de pico de
trabalho, não haverá intervalos de descanso. Nos horários de refeição a
candidata só poderia comer se, ao mesmo tempo fosse orientando os demais a sua
volta, principalmente aqueles que ainda não dominam os talheres. A mobilidade
que deve possuir é descomunal. Seu conhecimento exige informações da área da
medicina, das áreas financeira e econômica. Seus comandados necessitam de
ajudas praticamente o dia todo. Durante grande parte de sua vida, deverá ficar
acordada por muitas noites, preparando alimentos ou simplesmente cuidando de
pessoas. Não lhe será dado o direito de recusar a nada, mesmo que isso não seja
sua filosofia de vida. Deverá aceitar malcriações, grosserias, insultos e até
mesmo xingamentos. Não deverá revidar em nenhuma hipótese. Após noites mal
dormidas deverá levantar-se e realizar os afazeres diários. Também, todo dia
deverá preocupar-se com o comportamento e o aproveitamento escolar dos menores
de idade, conhecendo um pouco de matemática, história e geografia. Todas as
vezes que fosse questionada não poderia deixar de ser carinhosa e benevolente. Seu
trabalho diurno deverá ser terminado dentro de suas vinte e quatro horas, não
podendo ser transferido para o dia seguinte, mesmo que para isso tenha que
extrapolar a potencialidade dos músculos. Nas festas de fim de ano ou em dias
de feriados seu trabalho poderá ser dobrado e os intervalos de descanso não
poderão ser utilizados. Muitas vezes ficará exposta nos ambientes de labor a
temperaturas insuportáveis, mas isso jamais será motivo de reclamações
trabalhistas. Que isso fique bem claro. Ah.. O tempo para dormir será sempre
muito curto porque o trabalho com os subordinados é quase interminável. Férias
e décimo terceiro? Nem pensar. Isso é coisa de desocupados, de mesquinhez
profissional e por que não dizer vagabundice? Bem, na parte de baixo do outdoor
estava escrito em letras grandes e destacáveis: salário – nenhum centavo. Um
indignado bebum passando pelo local, escreveu: “Para enfrentar isso só se for a
mãe.” Pois é isso mesmo, só as mães têm a nobreza de enfrentar tudo isso todos
os dias com o salário do nada. Nossas homenagens a todas elas que todos os dias
realizam essa difícil jornada sabendo que vale a pena realizá-las pela
felicidade de seus filhos. Obrigado minha mãe por ter feito tudo isso. Peço-te
desculpas porque nosso tempo foi curto para eu poder agradecê-la pelo seu
sacrifício.
domingo, maio 18, 2014
Do outro lado da janela
As pessoas só conseguem enxergar as coisas obedecendo a sua ótica de
visão, respeitando seus próprios interesses. Acho isso próprio do ser humano.
Mas não deveria ser tão somente assim. É muito importante saber entender também
a forma que os outros enxergam. De agora em diante passe a observar melhor seu próprio
jeito. Não te parece que o mundo sorri apenas para você? Não tem a impressão
que os que te cercam sempre são possuidores de meia verdade? A tua te aparenta
mais lógica. Não te parece que a plena verdade é um privilégio só seu? Pois
bem, se você pensa dessa forma trate de pensar em mudanças. Todos têm razão no
que falam, basta que entendamos a sua realidade. Muitas vezes as pessoas
blasfemam e nós as julgamos fora dos parâmetros, nunca sentimos a justa dimensão
de seus problemas. É preciso aprender a respeitar o ponto de vista dos outros,
a verdade não é propriedade somente nossa. Certa ocasião li um texto bastante
reflexivo que sintetizava exatamente o respeito que é preciso ter pelo ponto de
vista dos outros. Uma jovem senhorita comentava num depoimento de estudos em
grupo, entre pessoas da mesma idade, quando faziam reflexões sobre a forma que
cada um vivia seu mundo. Dizia ela que tinha um relacionamento muito difícil
com seu pai. Pouquíssimas vezes conversavam dadas as desnecessárias
discordâncias que tinham. Um belo dia surgiu uma feliz oportunidade de viajarem
juntos de carro e ela imaginou que seria essa uma ótima ocasião e um bom
momento de ficar mais próxima de seu pai. Durante a trajetória da viagem, seu
pai, que dirigia o veículo, comentou sobre a sujeira e degradação de um pequeno
riacho que paralelamente acompanhava a estrada dos dois lados. A jovem, na
ânsia de concordar com seu velho pai, olhou para o córrego a seu lado e viu
águas cristalinas, verdadeiro cenário para uma linda paisagem no quadro.
Naquele momento teve a absoluta certeza de que ela e o pai não tinham as mesmas
aptidões para enxergar a vida. Sem atropelar o silêncio seguiram viagem sem
mais uma única troca de palavras. Alguns anos depois a jovem já com as marcas
do tempo no rosto repetiu aquela viagem, mas desta vez acompanhada de uma das
maiores amigas, dessas que se tem o privilégio de escolher na vida. Estando
agora ao volante, surpreendeu-se ao observar que do lado de quem dirigia, o
riacho era realmente horrendo e poluído. Exatamente como seu pai lhe havia
comentado, contrariando o belo córrego do lado direito de quem ocupa o assento
do acompanhante. Uma tristeza profunda lhe abateu sobre seu peito por ela não
ter levado em consideração o comentário do seu progenitor que a esta altura já
não mais pertencia do seu convívio. Parece inacreditável, mas é isso que acontece
todos os dias. Só sentimos e só temos olhos para o que mostra a nossa janela,
nunca a janela do outro. O que vemos é o que tem valia, não importa que alguém
bem próximo esteja vendo coisa diferente. A mesma estrada, para uns é infinita,
para outros, termina logo ali. Para uns, o pedágio sai caro, para
outros nem se lembra do que pagou. Grande parte dos brasileiros acredita
que o país melhorou, enquanto que a outra perdeu totalmente a
esperança. Muitos aplaudem a tecnologia como um fator de evolução, outros
lamentam que a distância entre as pessoas a cada dia é mais fria e mais
distante. Alguns enxergam nossa cultura parada no tempo, enquanto outros aplaudem
uma diversidade absoluta. Cada um gruda o nariz para o lado que olha e só
enxerga sua própria paisagem. É preciso observar sempre que possível o ângulo
de visão do vizinho, embora isso possa nos confundir um pouco sobre as
nossas certezas, mas nos faz refletir melhor. Nem sempre a verdade caminha
conosco. Dependendo de onde estejamos a razão pode estar do nosso lado, mas poderá
deixar de ser nossa assim que trocarmos de lugar. A ninguém foi dada a possibilidade
de ver ao mesmo tempo e sozinho os 360 graus da vida. A sabedoria recomenda sempre
que é preciso ouvir primeiro para depois falar. Sejamos menos prepotentes nas
nossas falas e atitudes. Todos estarão certos e todos estarão errados dependendo
de onde se esteja e com quais olhos se analisa. É preciso olhar sempre pelos
dois lados da janela.
Forças estranhas
Os homens foram moldados à semelhança da perfeição,
mas não tem sido fácil isso. Cada um de nós traz por dentro forças incríveis
que nem mesmo os estudiosos conseguem entender e decifrar. Somos todos heróis,
embora poucos fossem capazes de aproveitar a potencialidade que têm. Quando
cremos temos fé, quando temos fé temos domínio e equilíbrio absoluto. Um dos
atributos que nos faz ter essa virtualidade é a calma. Para conservá-la é preciso
possuir o hábito de não dramatizar nada, nem mesmo tornar trágico as coisas
simples por natureza. Sem esse controle ninguém poderá pretender o domínio das
coisas e muito menos das pessoas. A isso a ciência denomina administração. A
calma nos dá a certeza de que estamos no caminho certo. A inquietação dos apóstolos
quando os problemas de grande magnitude aconteciam, eram abafadas pelo olhar
tranquilo e sereno do Mestre. Nem palavras precisavam ser ditas. Para se manter
sereno é preciso aprender a ter competência e sabedoria. Uma pessoa intranquila
jamais terá autoridade em situações de desequilíbrio. Aqueles que conseguem administrar
seus limites jamais desperdiçarão de uma só vez todas suas energias, a ponto de
não tê-las no exato momento do necessário. O autocontrole é uma técnica que
amplia a liberdade de cada um. Se tivermos uma infinidade de coisas para fazer com
um menor tempo para executá-las, administremos o tempo então, começando por
fazer as coisas mais importantes e deixar que as de menor importância fiquem
para depois. Não podemos de pronto aceitar a ideia de que não somos capazes, para
que isso não se torne uma obsessão e cada vez mais nos tornarmos escravos dessa
afirmativa, acabando por acreditar nesse falso estado de coisas. Não é fácil a
nossa luta. Existe dentro de cada um de nós um zoológico de forças contrárias.
Dois ferozes falcões que se lançam sobre tudo que aparece, não se importando se
isso possa nos fazer bem ou mau. É preciso domá-los para que se fixem sobre
coisas preciosas e de grande valia – são nossos olhos. Duas enormes águias com
garras implacáveis e afiadas querendo a qualquer custo destroçar o que nelas
tocam. Temos que treiná-las para que sejam úteis e nos ajudem todos os dias -
são nossas mãos. Dois animados coelhos que teimam em adentrar onde lhes agrada,
fugindo de toda e qualquer dificuldade. Temos de ensinar-lhes a permanecerem cadenciados
e serenos – são nossos pés. Uma ferocíssima serpente, apesar de constantemente
presa entre 32 barras de ferro, está sempre pronta a envenenar o semelhante, desferindo-lhe
golpes, muitas vezes, de forma injusta – é a nossa língua. Um equino de grande porte, obstinado e que
não quer cumprir com suas obrigações. Alega estar sempre cansado e se recusa a
qualquer tipo de carga – nosso corpo. E por final, um mamífero carnívoro da
família dos felídeos mais conhecido como leão, que sempre quer ser o rei,
importante e vaidoso – nosso coração. Precisamos
de complacência para ter domínios absolutos desses animais, tornando-nos
desejáveis e sensatos, humildes e benevolentes, dominadores dessas temíveis
forças estranhas.
Professor
Manuel Ruiz Filho
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