quarta-feira, março 26, 2014

É preciso aprender decidir quem gostaríamos de ser

O ‘dia final’ parece ser um trágico acidente na vida das pessoas. Quase todos pensam dessa forma. Poucos estão acostumados a ligar essa situação a uma forma de renovação. A despedida definitiva precisa também ser encarada pelo lado positivo. É uma metamorfose. Toda semente morre para dar vida a uma nova planta. A ignorância morre para nascer dentro de você, a sabedoria. A morte pode ser o começo do novo e do esperado. É um marco onde os sonhos ocupam o espaço ainda não experimentado. É mudança na essência da palavra. É preciso adentrar em processos de transformação para melhor. Mate o estudante descompromissado que está sendo e faça renascer o profissional da melhor qualidade que o mercado procura. Acabe de vez com o ser preguiçoso que fica alojado dentro de você, que não te deixa caminhar atrofiando seus músculos e tornando mórbidas suas atitudes. Desencarne-se desse ser incrédulo que às vezes tem sido e deixe aflorar a belíssima criatura que o mundo precisa. Deixa de ser esse pai insensato, sem paciência e passe a ser o pai afetuoso e compreensivo que todo bom filho precisa. Elimine de uma vez por toda sua insegurança, seu orgulho e sua imaturidade deixando florir planos de uma vida cheia de espaços e projetos novos, capazes de beneficiar todos aqueles que esperam dividir a vida contigo. Mate a vingança, a mágoa e a deslealdade que te acompanha no dia a dia e faça renascer a humildade, a alegria e a vontade de ser útil às pessoas. Elimine, sem chances de volta, essa vontade de manipular os outros conforme tem agido e deixe o respeito ao próximo tomar conta do seu coração. Deixe de ser só “eu” e passe ser um pouco de “nós”. Isso vai te fazer bem porque elimina o egoísmo doentio que tem dentro de você, que te persegue infinitamente. Todos, a sua volta, vão adorar essa mudança. Deixa de ser esse casulo parasita que tem sido, transforme-se numa borboleta cheia de vida e de cores. Não fique agarrado a esse passado sombrio, nasça outra vez, ainda hoje. Elimine a estupidez, essa coisa exclusivista que te leva a imaginar uma referência a tudo, com uma vaidade excessiva e pretensiosa. Seja altruísta. O altruísmo é virtude restrita dos homens nobres e incomuns, capazes de compreenderem o mundo do ponto de vista da benevolência. Deixa nascer em você um protótipo semelhante ao que o Criador esperou. Vislumbre-se diariamente com uma criatura nova, cheia de sonhos e de glórias. Troque, agora se possível o que você foi pelo que pode ser. Desvista-se do ontem e transforme-se no hoje tão esperado. Aprenda que quedas são estímulos para se levantar com dignidade e coragem. Para sentir o mundo como ele é será preciso ter os pés no chão e sair dessa arrogância e prepotência que sempre carregas. Descubra que as sombras que te seguem nada mais são do que o reflexo negro da sua própria alma. Aprenda, para nada pode servir o seu conhecimento se não tiver com quem compartilhá-lo. Que para fazer qualquer coisa é preciso arcar com as responsabilidades das quedas. Deixe de se importar com quem ganha ou com quem perde para importar-se com aqueles que produzem o bem. A partir daí sim, será racional sua recusa a qualquer tipo triunfo incolor que te possa seguir. Valorize com intensidade sua luta, aprendendo a decidir sobre quem melhor gostaria de ser.

quinta-feira, março 20, 2014

A pequena face de Laura

Meses atrás, encontrei-me com um dos filhos. Pai, disse ele, eu trouxe um presente para você. Comovi-me, mas como meu filho é muito de fazer surpresa, não estranhei e esperei a notícia com alegria. Entregou-me um pacote com um papel brilhante que tinha uma caixa azul dentro dele. Embrulhada como se faz com presentes. E era. Desembrulhei com carinho e veio a grande surpresa. Um macacãozinho de bebê. Esposa grávida. Como eu sempre tive esperanças de ser mais uma vez avô, eu não sabia o que fazer de tanto contentamento. Até então, apenas uma notícia de gravidez. O tempo passou e uma nova notícia chegou: Pai, eu fiquei sabendo hoje. É uma menina. Será batizada com o nome de Laura. Que lindo nome, filho. Busquei nos livros o significado desse nome. ‘Uma pessoa muito calma e simpática. Tem muita delicadeza, sabe se expressar muito bem, é uma verdadeira princesa quando se trata de bons modos, gosta de ajudar as pessoas e se envolve muito em atividades em que seja voluntária, é simples e mesmo tendo condições financeiras não deixa que isso afete seu modo de pensar e agir, sua ideologia é que a vida deve ser aproveitada de forma simples, cada momento é importante para o ser humano e que isso enriquece a alma’. Muito me animou a informação que encontrei. Os pais de Laura ainda não acreditam que têm nas mãos os destinos de uma nova vida. A Laura enriqueceu um lar que já era lindo, mas faltava o toque infantil que só as crianças sabem fazer. Com certeza, meu filho e sua esposa terão todas as alegrias que tive por duas vezes. O primeiro sorriso, a primeira palavra, o primeiro dentinho, o primeiro mamãe, o primeiro papai, o primeiro aninho e o primeiro dia de aula. Serão tantos primeiros que o tempo é insuficiente para que lembremos sempre de todos. Ser pai... Aí, eu fico a pensar... Que mistério é este que se junta ao perfume e nos transporta à presença de Deus! Que mistério é este que não importa a época em que é consumado traz um sentimento que nada consegue definir. Que mistério é este que quando ouvimos a voz pela primeira vez somos capazes de melhor entender o mundo... Que mistério é este que nos hipnotiza e nos enobrece apenas com o fato dele acontecer... Que mistério é este que arranca de dentro de nossos corações momentos indecifráveis... Que mistério é este que tenta e consegue tirar a todo custo um instante mágico de nossas vidas... Um momento lindo, raro com certeza, que talvez não se consiga imaginar outro. Laura, minha netinha, seu avô te espera com o dobro da alegria e esperança que um dia esperou seu pai. Que você seja mais uma flor nesse jardim tão lindo que se chama vida. Que todos aqueles que de ti se aproximarem possam enxergar a luz que te trouxe e a bênção de que você será mais um ser humano a encantar este mundo.

Palavras que exalam perfumes

São poucas, mas valiosíssimas. A gente sempre espera que as pessoas as digam com frequência, mas isso pouco acontece. Grande parte da sociedade contemporânea pouco se lembra delas e outra parte nem aprendeu. A juventude continua carente de todas, são poucos os jovens e adolescentes que as pronunciam no dia a dia. Muito obrigado, por gentileza, me dê licença, por favor, são binômios e trinômios perfumados pouco ouvidos nos últimos tempos, lamentavelmente. A sociedade de forma geral perdeu os bons costumes pela forma que vive. Dificilmente os pais têm percebido o pouco de educação que têm passado aos filhos nesse sentido. Na maioria das vezes os pais têm deixado esse ensinamento para as escolas e as finalidades desta é alfabetizar e profissionalizar. A educação propriamente dita precisa ser praticada pela família. Se os adultos deixaram de praticar esses hábitos imagina você o que será dos filhos. É muito mais fácil passar às crianças o ensinamento da ‘lei da vantagem’ do que perder tempo para ensiná-las. Os pais pouco percebem que mais preparam os filhos para se defenderem e atacarem na medida do que forem atacados. De forma geral a reação das crianças hoje é muito mais agressiva do que pacífica. Aprendem facilmente as manhas da ofensa e agridem como se os semelhantes fossem bonecos de guerra, gerados pelos brinquedos da indústria ‘videogameana’. Dar seu lugar a um idoso no ônibus, nem pensar... Por que ele não chegou primeiro? Agradecer um favor recebido, para que? Se ninguém o faz eu também não sou obrigado a fazê-lo. Essa é a tônica que enfrentamos todos os dias. As escolas tentam repassar aos seus alunos os bons costumes, mas não é essa a sua tarefa. A educação é responsabilidade dos pais. Fico feliz quando vejo uma criança encaminhada às igrejas em busca de religiosidade. Se quisermos amanhã uma sociedade madura é nossa responsabilidade fazer com que isso aconteça. Um dia, não me recordo quando, meu vizinho me liga dizendo que tinha uma criança destruindo algumas flores que eu havia plantado no lado de fora da minha residência. Saí na frente da casa e realmente um menino de uns 10 anos, mais ou menos, enquanto conversava com um coleguinha, destruía algumas plantas exposta do lado de fora do muro. Cheguei perto e disse: Tudo bem? Posso te dizer uma coisa? Sim, respondeu ele. Você sabia que eu plantei essas flores aí para enfeitar o caminho das pessoas que passam? Para que quando todos aqui passassem tivessem um ambiente mais alegre. Você acha correto arrancar as plantas? Educadamente ele respondeu: Não senhor. Saiu lentamente e com o coraçãozinho entristecido, foi o que eu percebi. Para minha surpresa, 30 minutos mais tarde aparece o menino com uma planta na mão para que eu colocasse no lugar daquela que ele havia arrancado. Mais que depressa eu o agradeci e pedi a ele que me ajudasse a plantá-la. Plantamos juntos. Pena que não guardei o nome dessa criança. Pelo tempo que faz, deve estar moço hoje, mas com certeza deve ter sido um orgulho dos pais que infelizmente não conheci.

Ele doou tudo que tinha

Perguntas ecoavam por todos os cantos do Oriente Médio, região hoje denominada de Palestina. Os senhores da situação e donos do tempo constantemente perguntavam: Quem é esse homem? De onde ele veio? Não podemos acreditar que essa criatura tão estranha, tão cheia de exigências possa vir mudar o rumo das coisas! O que pensa ele que é? Um predestinado? Um salvador da Humanidade? Como pode uma criatura valorizar tanto as mulheres, os escravos e as crianças? Deu às mulheres religião e respeito, também o direito a testemunharem, condição negada até então. E mais, sacou-lhes da condenação à ignorância. Expulsou vendilhões dos templos, restituiu aos sábados, dia impróprio a qualquer atividade, a saúde de leprosos e paralíticos, aos cegos restituiu-lhes a luz e aos mudos o dom da palavra! Esse cidadão não se defende quando o insultam, onde está seu brilho? Pois é, foi ele mesmo que fez uma oferenda das mais significativas que se possa conhecer. No momento de sua despedida entregou às pessoas que lhes eram próximas todos os seus pertences, orientando como cada um deles deveriam ser aproveitados. Disse Jesus de Nazaré: “Vendo próxima a minha hora e estando na posse de minhas plenas faculdades para consumar a minha vontade, desejo repartir meus bens entre as pessoas que me são próximas. Assim, creio ser conveniente dividir com todos, deixando-lhes tudo que esteve presente em minha vida de forma significativa desde o meu nascimento. A ‘estrela guia’ deixo aos que estão desorientados e necessitam verem claros seus redores para continuarem em frente e a todo aquele que desejar ser guiado ou servir de guia. O lugar da ‘manjedoura’, deixo aos que não têm nada, nem sequer um local para se albergar ou um fogo onde possam se acalentar e falar com um amigo. As minhas ‘sandálias’ deixo àqueles que desejarem empreender uma caminhada sempre dispostos a plantar, sem mesmo saberem se a colheita poderá ser feita. A ‘bacia’ onde lavei os pés, deixo para quem quiser servir, para quem desejar ser pequeno diante dos homens, porque será grande diante dos olhos de meu Pai. O ‘prato’ onde parti o pão é para os que se propõem viver em fraternidade e para os que estiverem dispostos a amar, acima de tudo e a todos. O ‘cálice’, eu deixo aos que estiverem sedentos de um mundo melhor e de uma sociedade mais justa. A ‘cruz’, eu doou para todo aquele que estiver disposto a carregá-la e suportá-la nos ombros até que venham a mim. Minha ‘túnica’ eu deixo para os que saibam reparti-la com quem dela necessitar. Também quero deixar como legado a humanidade inteira as atitudes que sempre me guiaram na vida. A ‘minha palavra’ e o ‘ensinamento’ que me foram confiados pelo meu Pai servirá a todo aquele que bem a escutar e a puser em prática. Minha ‘alegria’ eu doo a todos os que desejarem vivê-la, assim como faço com a ‘humildade’ que foi a bandeira utilizada por toda minha existência. De coração, doo a quem estiver disposto a trabalhar em favor de cada um dos meus irmãos. Doou ainda, o meu ‘ombro’ a todo aquele que necessite de um amigo em quem possa reclinar sua cabeça abatida pelo cansaço. O meu ‘perdão’, eu doo para todo aquele que dia após dia, pecado após pecado, tenha força e vontade para retornar ao Pai. Amo a todos, mas sinto especial predileção pelos mais débeis. Deixo a eles a minha vida. Enfim, sou eu mesmo que fico convosco para continuarmos a caminhada juntos, partilhando preocupações, problemas e alegrias. Eu sou a vida, mas vós podeis transmiti-la a quem dela precise. Mantenham-se unidos e amem-se de verdade. Eu vos amei até ao extremo e vos levo no meu coração. Eis que estarei convosco todos os dias até o final de todos os tempos”.