terça-feira, março 19, 2013

Fumaça branca

Que emocionante deve ser a fumaça branca expelida pelas chaminés do Vaticano. Gostei muito daquele país quando lá estive. Vi por onde sai a fumaça, mas não tive a oportunidade de vê-la de fato. Deve ser realmente muito empolgante. Pesquisei sobre o assunto, observei que a fumaça negra anuncia que ainda o papa não foi escolhido. Essa fumaça é fruto da queima das cédulas de votação misturada a três elementos químicos: perclorato de potássio, antraceno e enxofre. Já, a fumaça branca é obtida através da queima de cartuchos de clorato de potássio, lactose e colofónia. Essa sim, diz que os membros da Igreja chegaram a um acordo. Escolheram entre eles, o melhor e o mais preparado dos homens para os destinos da função papal. A ele será incumbida a santa tarefa de substituir tantos outros que desempenharam esse nobre papel. Está nos parecendo que acertaram a escolha. Um homem destemido. Talvez, um possuidor da fé, que tanto a humanidade precisa. Tomara que essa ferramenta do bem seja sua eterna bandeira. Torçamos para que ele utilize toda sua sabedoria em benefício dos que mais precisam, mas não só daqueles praticantes da sua Igreja, de todas. Oxalá, Sua Santidade possa aproveitar essa oportunidade única de pregar, que não é preciso de muitas palavras para se chegar à verdade. Sabemos pouco sobre o que dizem as palavras. Menos ainda do que significa o silêncio. Este, fala mais alto quando as palavras se mostram pequenas. Por isso deve ser valorizado como joia preciosa. Se fôssemos possuidores do dom de averiguar o impossível, poderíamos dar nova vida às nossas vidas. Creio que, se soubéssemos o verdadeiro valor dos nossos dias pudéssemos transformá-los em dias muito melhores para nós e para os outros. Se preocupássemos com a fumaça branca que pode sair de cada um de nós o mundo seria melhor. Que nossa fumaça branca nunca perca a sua brandura, que nunca se escureça. Utilize-se dela para atravessar essa breve ponte que é nossa existência terrena. Não construas nessa ponte tua morada, atravessa-a somente. Que nossa boa conduta e nossos atos possam nos guiar os passos nessa tarefa. Que cada um possa surpreender-se diante das insignificâncias, diante do fútil e do desnecessário. Saber viver diante de tudo faz parte do aperfeiçoamento da raça humana. A maioria das pessoas meramente existe. Pouco ou nada aprendemos sobre o amor, a bondade e a caridade. Agimos como se essas virtudes não existissem. Revendo curiosidades, encontrei uma foto tirada em 1946, na Áustria, retratando a alegria de um instante em que um garoto órfão de seis anos de idade ganha um par de sapatos novos. O menino permanece radiante, paralisado, enquanto abraça os novos sapatos. Para quem conta com tão pouco, a oportunidade de trocar os velhos sapatos por novos pode representar um mundo novo. A alegria intensa estampada na face da criança foi fruto de uma revelação de bondade e caridade naquela manhã ensolarada de inverno. O ato reconciliatório do pequenino órfão com a vida, apesar dos contratempos, dores e decepções, fez brotar flores no jardim da sua consciência. Um jardim sempre floresce na alma de quem recebe, na alma de quem pratica e na alma de quem perdoa. “Onde não há caridade, não pode existir justiça”. De onde a fumaça branca não sai, pouca coisa se pode esperar. Não deixe a fumaça negra fluir dos teus atos. Exale a branca, todos irão amar as suas atitudes.

quarta-feira, março 13, 2013

O Chico e o Zeca, irmãos consanguíneos

Dia desses presenciei o bate-papo do Chico e do Zeca. Fiquei impressionado com a distância entre os dois. Nascidos do mesmo ventre, mas com comportamentos muito distintos. O Chico é um cidadão que valoriza muito o dinheiro na conta bancária e o pacote de escrituras na gaveta do criado-mudo. O Zeca valoriza a vida que leva e assim leva a vida. Chico, perguntou o Zeca: - Para que esse mundão de dinheiro que você busca sem racionalidade nenhuma? Você se apercebe que nessa busca você deixa de viver e não deixa viver sua família? Você não pensa em outra coisa que não seja o dinheiro! Pensa que vai levar isso quando se for? Já viu alguém que levou bens quando se mudou deste mundo? Eu nunca vi. Procure dar uma olhadinha numa urna mortuária para ver se ela tem gaveta para levar seus pertences. Zeca, larga de ser bobo. Você não percebe que a vida se resume em ser rico, ter dinheiro e participar da classe social? Será que você vai continuar pobre como sempre foi? Não acredito que você faça essa besteira. Você não vê que a sociedade só valoriza quem tem dinheiro? Não enxerga isso? Não percebe que as pessoas abastadas têm espaços na sociedade maior que os outros? Chico, respondeu o Zeca: - dinheiro é bom para a gente ter o que comer, o que vestir, desfrutar um pouco de lazer e principalmente estudar os filhos. Fora disso nos tornamos avarentos. O conhecimento vale mais que o dinheiro. Com o conhecimento você ganha dinheiro para viver, mas com o dinheiro você não ganha conhecimento suficiente porque não pensa em outra coisa senão nele. O dinheiro é ferramenta da ganância e se você não tomar cuidado irá morrer com a conta bancária bem grande, mas com a saúde bem pequena. Olha Zeca, disse o Chico: - A gente nunca perde por guardar dinheiro, mesmo que seja a qualquer custo. - Mas como isso é absurdo Chico. Você perde sim. Conheço gente que ganhou dinheiro a vida toda e agora está gastando tudo para recuperar a saúde. Perder a saúde não é bom. E tem mais, disse o Zeca: - você não leva em conta quem está perdendo dinheiro quando você está ganhando. Você escraviza as pessoas na busca do vil metal. Você não consegue fazer nada sem que o dinheiro seja o maior objetivo. A empregada doméstica da sua casa não tem registro. Você não a registrou para economizar. Não vê que ela vai precisar desse direito para suportar a idade quando não puder mais trabalhar? Você não tem amigos, percebeu? Aliás, só o gerente do banco é seu amigo! E tem um detalhe, tire o dinheiro de lá para ver se ele continua seu amigo... Não acredito que ele continue. Olha Chico, somos irmãos, mas não consigo entender o que nossos pais fizeram para que você tivesse um comportamento tão diferente do meu. Eu gosto de ganhar dinheiro, mas não vivo só para isso. A sociedade terá que me engolir assim como sou. Eu não vou mudar de ser simples para o sofisticado só para aparecer na sociedade. Não vou tentar comprar dignidade, essa qualidade moral nasceu comigo e será sempre inegociável. Não abro mão de ser o que sou só porque a sociedade quer que eu seja diferente. Você, meu irmão, acha que o dinheiro vai lhe trazer o que seus talentos não conseguem adquirir de forma normal. Eu não preciso de muito dinheiro para registrar minha passagem neste mundo, porque decência e decoro são ferramentas do meu comportamento. Infeliz de você meu irmão, se continuar assim.

domingo, março 10, 2013

Meu limão meu limoeiro

Sou amante da natureza. Não só pelos benefícios que ela nos trás, mas pela beleza que ela tem. Sou uma pessoa que tem um carinho especial com as plantas. Aqui em casa não tenho quintal sem calçada, mas tenho uma enormidade de vasos com as mais variadas plantas. Três lindas jabuticabeiras plantadas em vasos e três pés de mangas. Ainda tenho em vasos, pés de goiaba, carambola e araçás. Não vejo a hora de todos os dias de eu poder cumprimentá-los e matar-lhes a sede. Abasteço a alma com esse singelo gesto. Mas, tenho outra paixão. No jardim de frente de casa, num espaço de dois metros quadrados dois limoeiros. Estão com frutos enormes. Estou ansioso para ver esses frutos maduros porque eu trouxe as sementes do Velho Mundo. No ano de 2007 fomos à Espanha. Sempre tive o sonho de conhecer a terra onde meu pai nasceu. Nos documentos que tenho dele está escrito que ele nasceu em Málaga. Na Espanha esse nome tanto é de uma cidade como da Província onde fica essa cidade. Não estive em Málaga nessa época, mas em outra oportunidade, com certeza estarei. Procurei por todos os meios encontrar onde meu velho nasceu para ver se conseguia uma cópia de sua certidão de nascimento, já que me proponho a obter dupla cidadania. Encontrei um documento junto aos meus, em espanhol, amarelado pelo tempo, e quase apagado pelos seus 109 anos de idade. Depois de muito analisá-lo cheguei à conclusão que era mesmo a certidão de nascimento de meu pai emitida por uma Igreja de lá, no ano de 1904. Quando nos povoados antigos não havia cartórios os registros, a certidões de nascimento eram expedidas pelas igrejas. Bem, mas não era esse o assunto que eu queria comentar. Eu quero mesmo é falar dos limoeiros. Pois então, passeando pelas ruas de Madrid avistávamos uns pés de limões de tamanho grande e de cores avermelhadas. Fiquei enamorado pela beleza dos frutos. A cultura europeia não me dava o direito de apanhar pelo menos um. Fui insistente, numa visita que fizemos ao Palácio de Alhambra, local onde descansavam em períodos de férias alguns reis da Espanha. Encontrei nos jardins dessa mansão um pé de limão com um fruto no chão. A alegria de tocar esse fruto foi das maiores. Peguei o fruto do solo e pedi a minha esposa que o colocasse em sua bolsa. Chegando ao hotel estraçalhei o fruto como se uma criança estivesse abrindo seu ovo de páscoa e retirei dele cinco sementes. Embrulhei-as num papel e as coloquei no fundo da mala. Impossível que o visualizador policial nos aeroportos iria me privar dessa joia. Eu as trouxe, plantei as cinco sementes e delas nasceram cinco belíssimas plantas. Dei três mudas a três grandes amigos e as duas que sobraram plantei no jardim da minha casa. Cresceram, floriram e produziram frutos. Devem ter mais ou menos de quatro a cinco metros de altura e uns cinquenta frutos. Estão enormes e aguardo ansiosamente a coloração avermelhada que vi. Espero que as pessoas que passam na rua não imaginem que sejam frutas doces e apanhem sem que eles amadureçam. Vamos aguardar, quando estiverem maduros farei muitas mudas e vou presentear todos aqueles que quiserem plantar o limão madrilense em suas casas ou suas chácaras. Meu limão, meu limoeiro, meu pé de jacarandá, cantava assim o saudoso Wilson Simonal nos grandes festivais da música brasileira. Mas o jacarandá, infelizmente eu não tenho, só comentei mesmo pela lembrança da melodia.

sábado, março 02, 2013

Que pais são esses

Neste domingo que passou, pela manhã, saí às compras, como sempre faço. Todo mundo sempre tem alguma coisa a buscar no domingo de manhã. Afinal é um dia especial e diferente dos outros dias da semana. Telefone pouco tilinta, o trânsito é menos intenso, as pessoas andam mais calmas nas ruas, enfim, é mesmo um dia especial. Lá no supermercado sempre encontro amigos. Desta feita, encontrei um amigo muito especialíssimo, não menos que outros, mas eu o respeito muito pela história de trabalho que temos em comum. Como você está? Eu perguntei. Nada bem, respondeu. Minha esposa está com minha filha internada em Ribeirão Preto. Recomendações médicas me indicaram procurar um especialista em São Paulo, Campinas e Ribeirão Preto. Pela logística, escolhi a cidade mais perto. Naquele momento me passou um filme na cabeça, igual àquele que passa na cabeça de todo pai que tem a responsabilidade que é preciso. Fiquei um pouco sem jeito de dizer mais alguma coisa, mas tentei com palavras dar-lhe o ânimo que precisava. Outro fato bastante parecido gostaria de comentar aqui para você, este vivido no meu trabalho. Gosto de conversar com meus alunos e sempre procuro instigar-lhes as vidas para ver se posso, com minha experiência de vida, ajudá-los. Aliás, isso é tarefa de mestre e não de professor apenas. Sempre meus alunos me fazem perguntas. Eu procuro respondê-las como se fossem meus filhos, porque é assim que eu os considero. Perguntam eles: Professor, o que é preciso para ser professor? Muitas respostas eu lhes dou, mas a primeira e a mais importante delas eu respondo: amar os alunos que tem como se filhos fossem, sobrinhos ou quaisquer pessoas da família. Eles ficam satisfeitos com minhas respostas porque se sentem amados e orientados pelas demais respostas que dou. Claro que não me esqueço de uma tão importante que é ter conhecimento. Isso é imprescindível. É inaceitável que alguém assuma a condição de professor e não se atente ao seu principal objetivo que é ensinar. Mas confesso, aprendo muito com meus alunos. A juventude que eles me passam todos os dias não me permite envelhecer. Isso é muito bom porque sempre me proporciona continuar ensinando e aprendendo. Um fato curioso me aconteceu ano passado com uma das minhas alunas que sempre conversava comigo. Chama-se Renata Pretti. Pena que não consigo mais falar com ela porque se formou neste ano que passou. Após essa tão sonhada formatura os destinos de cada um tomam caminhos diferentes. Mas essa menina me contava o tipo de relacionamento que tinha com o pai. Esse homem que depois tive o privilégio de conhecer era para ela um verdadeiro ídolo. Eu ficava estarrecido em observar as palavras que saia da boca dessa menina quando se referia ao pai. Meu Deus, esse homem precisa passar essas experiências a todos os pais que disso precisam. Preciso conhecer esse cidadão. Sempre dizia à Renata para que ela trouxesse seu pai na escola para que tivesse a oportunidade de conhecê-lo. Ela me fez essa promessa e satisfatoriamente cumpriu. No dia de sua formatura me apresentou essa generosa pessoa, cheia de amor e sabedoria de como se criar um filho. Foi muito bom conhecer o senhor. Sua filha durante nosso tempo de convivência acadêmica sempre falou do amor que o senhor sempre lhe deu, e pelo que sempre percebi o senhor recebe dela o amor incondicional de filha. Pois é professor, respondeu ele. Deus foi generoso comigo ao me entregar essa menina. Bem, vou te contar o mais interessante dos fatos relacionados aos dois pais que comentei neste texto, porque eles têm uma coisa em comum. Os dois têm os filhos adotivos. Isso me comove e me deixa feliz, pelo fato de ver como é possível as pessoas serem a semelhança de quem as criou.