sexta-feira, novembro 08, 2013

Os desígnios de cada um

Certa vez, retornava eu de uma caminhada rumo ao meu lar e ao passar frente ao local de trabalho de um amigo resolvi visitá-lo. Esse é amigo mesmo, não apenas um conhecido. Entrei em seu mundo de labor e lá estava ele, sentado em sua cadeira de rotina, pensativo, debruçado em sua mesa de todos os dias. Cumprimentei-o como sempre e de pronto vi nos seus olhos uma tristeza infinita. Removi uma cadeira e me sentei. Puxei assunto, como de costume as pessoas de bem o faz quando se encontram. Pouco reagiu. Não me pareceu que a felicidade estava à flor de sua pele naquele momento. Tentei fazer comentários sobre negócios, banalidades e rotinas e ele não acompanhou. Preferiu ficar abraçado aos pensamentos que o vinha incomodando. Num dado momento, pediu meu telefone e de imediato inseriu o meu número em sua lista de chamadas. Abriu o peito e disse: outro dia me senti tão desolado e triste, sem saber o que fazer. Saí por aí com o carro sem rumo, sem saber por onde passar e nem para onde ir. Triste, me sentia como a insignificância diante de problemas intermináveis que tenho tido. Precisava falar com um amigo, urgente. Recorri a minha lista de chamadas onde se encontram mais de duzentos números agendados e não consegui elencar apenas um que pudesse me dar uma palavra amiga naquele momento. Lembrei-me de você, mas não tinha o seu telefone. Confesso que ao ouvi-lo choramos juntos. Meus olhos copiavam as lágrimas que saiam dos olhos dele. Naquele momento disse-me ele: “Por que será que Deus está me provando tanto? O que será que fiz pra Ele?” Há pouco tempo, você se lembra, dizia ele, entrei numa depressão enorme e ultimamente minha companheira passou por problemas de saúde, mas já está bem. Meu filho não é o melhor aluno da sala onde estuda. Em seguida, sem que ele pudesse respirar pos mais de três vezes, eu lhe disse: Você foi o melhor aluno da sua turma? Não, respondeu ele. Por que será que queremos que os nossos filhos sejam os melhores? Será que isso é o sucesso garantido? Claro que não. Nossos filhos devem ser bem educados, orientados, polidos, com exemplos e não somente com palavras. Gritos não resolvem. Do contrário, extrapolam nossas mensagens instrutivas. Meu querido e estimado amigo, a vida ainda é uma terra que ninguém pisou verdadeiramente, exceto Cristo. Por mais que os anos nos amoldem, por mais que a sabedoria nos achegue à porta, persistirá a incógnita dos nossos caminhos. Nosso tempo neste sagrado chão é bem curto. Enquanto uns chegam outros partem sem que se encontrem. É como o navio que avistamos mar afora, sumindo dos nossos olhos, diminuindo cada vez mais e se perdendo no horizonte, enquanto outros o enxergam chegando e aos poucos aumentando. É essa a nossa existência. Por mais que queiramos entender o significado de tudo não conseguiremos. Alguns pensam entender, mas é pura ilusão. O mistério ficou por conta das crenças que na sua grande maioria ainda o deturpa. Só Deus o entende. Nada será tão prejudicial para o ser humano que não tenha fim. Nossos caminhos são iluminados ainda que tenhamos dificuldade de enxergar a luz. A criatura humana que existe impregnada dentro de cada um terá que ter paciência e a nobre função de suportar seus desígnios.

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