domingo, janeiro 19, 2014

Muita paciência, meu filho.

Certa vez, um senhor de média altura, portando um paletó de casimira azul, sentado na soleira da porta, como de costume, olhava seu filho brincando com um boneco, tipo esse que funciona em representações teatrais, geralmente para crianças. Atado por meio de cordéis para se manobrar com as mãos. A isso o dicionário apelida de marionete. O menino fantasiava situações com esse objeto de brinquedo que ao seu velho pai chamava a atenção. Aproveitando a oportunidade da ocasião, pelo fato de estar bem perto do filho, olhou em direção aos seus olhos e falou: - Meu filho, o mundo que te aguarda não será o mesmo pelo qual passei. Eu preciso te dizer algumas coisas para que você saiba lidar com as situações inusitadas que vamos viver juntos. Eu queria pedir para você fazer esforço absoluto para me atender com muita paciência. Eu vou precisar muito da sua atenção e da sua compreensão. Estamos caminhando para um momento que eu não vou poder te ouvir. Não porque eu não queira, porque a minha audição passará por um desgaste natural e não será a mesma. Não se irrite com isso, por favor. Momentos haverá que eu irei tentar te falar o que penso ou o que será melhor para você e minha voz será difícil de ser ouvida. Não porque eu não queira, porque meus pulmões já não estarão atendendo as exigências de uma boa fala. Não se irrite com isso, por favor. Se por acaso me vir balbuciando tolices, não fique preocupado, será uma situação nova para mim, talvez batendo na porta, a minha velhice. Não se irrite com isso, por favor. Um dia, quando você menos esperar, o meu neto vai querer te ouvir e talvez você precise falar o que agora ouve de mim. Você não se recorda, mas eu tive toda a paciência deste mundo para te ensinar a andar. Mais paciência, ainda eu tive, quando percebi que você queria dizer palavras, mas não sabia pronunciá-las. Agia com suas mãozinhas apontando o compartimento da casa onde se postava a santa bebida. E eu pacienciosamente pronunciava a palavra água. Você repetia ‘aua’. Agora há inversão nos papéis. Você é que precisa ter paciência comigo. Você que precisa cuidar de mim. Quando eu deixar cair algo que esteja em minhas mãos, não é porque eu quero, nem por maldade, é a falta de forças enfraquecendo minhas habilidades. Se por acaso me encontrar andando pelos cômodos a noite quando todos da casa estiverem dormindo, não é porque eu quero isso. Eu também não saberei o motivo, talvez apenas motivado pela vontade de mover os meus músculos. Meu filho, eu te peço paciência, toda que for possível. Com certeza seu aprendizado de paciência e tolerância será um treinamento para atender os anseios dos teus filhos e com você mesmo num futuro bem distante. A vida é assim, uns mais cedo, outros mais tarde precisam de ajuda, porque o tempo passa e tudo muda.

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