terça-feira, outubro 01, 2013

Estranho comércio

Nesta semana, mais precisamente dia 28 de setembro, estivemos visitando uma enorme feira de produtos de vestuário, brinquedos, bijuterias e outras bugigangas na vizinha cidade de Parisi. Com toda certeza estavam ali amontoadas centenas de barracas de vendas, de 200 a 300 unidades possivelmente. Todas abarrotadas de produtos a custos irrisórios. Não dá para entender como alguns produtos possam ser comercializados nessas circunstâncias. Os vendedores, todos de pele escurecida e bem parecidos com aqueles indianos que a gente costuma ver em novelas ou gritando em portas de comércio na Rua 25 de março em São Paulo. Apelidar tudo aquilo de bagunça é muito pouco, mesmo porque bagunça pode ser coisa organizada. Difícil é entender como funciona tudo isso. Assim que passamos por uma das centenas de barracas ali espremidas, um dos vendedores simpaticamente me perguntou se eu queria comprar uma bermuda da ‘adidas’ por quinze reais. Brinquei com ele e lhe disse que estava caro. Acheguei-me a sua tenda com a finalidade mesmo de saber de suas origens. Indiano? Perguntei a ele. Não, disse sorrindo, sou de Bangladesh. Ah sim, respondi. Conheço seu país de nome e no mapa. Para o leitor, Bangladesh também conhecido pela forma aportuguesada de Bangladeche é um país asiático rodeado quase por inteiro pela Índia, com exceção do sudeste. Esse país conquistou sua independência do Paquistão em 1971, depois de uma guerra civil de nove meses entre o Paquistão Ocidental e o Paquistão Oriental. Essa nação, na verdade era o Paquistão Oriental. Para que se tenha uma melhor ideia, Bangladesh é o oitavo país do mundo em número de habitantes, com cerca de 150 milhões de pessoas em 2012. O rápido crescimento populacional do país trouxe um sério problema de superpopulação. É pouco maior do que o estado brasileiro do Amapá, mas o número de habitantes é, aproximadamente, 220 vezes maior. Seus habitantes são chamados de bengaleses. Essa região é caracterizada há muito tempo por uma grande pobreza e a maioria dos habitantes é composta de agricultores paupérrimos, que se esforçam para tirar seu sustento de pequenos lotes de terra. Muitos trabalhadores na maioria das cidades ganham apenas centavos por dia, daí a extrema pobreza e a péssima qualidade de vida desse povo. Mais de cinquenta por cento da população acima de 15 anos não sabe ler nem escrever. Aliás, no diálogo que tive com esse rapaz de aparentemente 25 anos de idade deu para perceber a tamanha falta de informação. Fiquei surpreso com tudo aquilo que ouvi e que vi naquele local. A fim de saber um pouco mais da situação, perguntei ao ilustre desconhecido quanto pagava por estar ali durante três dias. Ele não soube me responder com palavras, mas de forma gestual me mostrou o dedo indicador valendo pelo número um e na palma de sua mão desenhou mais três zeros. Rapidamente fiz a conta imaginária das quase 300 barracas ali postadas. Que participação tiveram os cofres públicos na arrecadação? Melhor conferir se tiver dúvida. Perguntei ao bengalês, onde dorme? Apontou para o chão do asfalto. Nem me atrevi a perguntar onde toma seu banho ou faz suas necessidades fisiológicas. Com certeza iria me dizer do outro lado do muro de onde estávamos. Mas o que me chamou a atenção foi como isso foi acertado, não em termos de dinheiro, porque esse é fácil de imaginar, mas em termos de legislação. Será que os direitos trabalhistas são respeitados nessas circunstâncias? Será que a licença do Corpo de Bombeiros foi emitida? Se lá aparecer um foco de incêndio, com as mercadorias que ali estão entulhadas o local se transforma em cinzas em pouquíssimos minutos e uma enormidade de pessoas estaria entre as cinzas. Será que as Prefeituras dispõem de legislação para atender a essa situação? Sei não. Continuei a trajetória a passos lentos. Passando por outra banca constatei a venda de um relógio infantil por cinco reais. Os de adultos eram dez reais. Ainda não consegui entender como tudo isso se processa. O que é pior, quando um cliente adquire uma bermuda ou camiseta ‘adidas’ por cinco ou dez reais, ele imagina na hora, que os comerciantes de sua cidade que se mantém legalizados são crápulas usurpadores, para não dizer exímios ladrões. É visível que os bengaleses ali distribuídos trocam seus horários de trabalho pela comida. Não pode ser diferente, em suas origens isso seria pior. Alguém tira esses infelizes de suas pátrias e os escraviza com promessas indecentes e desumanas. Será que os sindicatos não vêm a exploração desse tipo de mão de obra? Ou será mais cômodo visitar locais permanentes de trabalho onde é mais fácil de encontrar os responsáveis? Fechar os olhos em algumas situações seria mais prático? Para dizer a verdade, isso me parece mais uma escravidão de pessoas a céu aberto do que decentes e dignas oportunidades de trabalho que os comerciantes da cidade oferecem.

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