sábado, setembro 28, 2013

Fazer a diferença

Muitas pessoas costumam fazer a diferença na vida dos outros. Acho isso uma dignidade. È muito importante quando a gente tem amigos que pensam assim. Não nos basta ser mais um, aliás, se todos entendessem a diferença de ‘ser um’ e de ser ‘mais um’ imagino que entenderiam tudo. Quem não tem amigos que fazem a diferença em sua vida? Se fizermos um pequeno esforço creio que vamos lembrar-nos de muitos deles. Li uma ocasião que “a diferença entre o sábio e o ignorante não é a questão de quem sabe mais, mas sim quem se dispõe a aprender sem vergonha de ser aprendiz”. Achei isto bastante significativo. Em qualquer área de convivência encontraremos aqueles que nos fazem a diferença. O homem público e honesto, por exemplo, faz a grande diferença na vida de toda a sociedade, seja neste país ou em outro qualquer. Ele não pratica o egoísmo, essa tendência presente nos seres humanos de levar em conta exclusivamente os próprios interesses em detrimento do cumprimento dos deveres morais para com os outros, quando se propõe a realizar algo diferente. Ele o faz pensando na sociedade como um todo e é claro que são poucos, mas esse pouco faz a diferença. Se fizermos uma analogia entre uma crise no governo e uma crise renal, vamos notar claramente que nesta última um chá de quebra-pedra pode resolver tudo, naquela, só um transplante de ministros. Na vida acadêmica, pela enormidade de pessoas que lidamos todos os anos, sempre tivemos alunos que fizeram a diferença em nossas vidas, outros, ainda continuam fazendo. Todos os dias, felizmente, os alunos me surpreendem com suas atitudes e seus projetos de vida. Ainda esta semana uma aluna me procurou para que eu a acompanhasse numa pesquisa para participação em concurso de prêmios. No nosso diálogo tentei mostrar a ela que sua atitude muito nos honra e nos deixa feliz, mesmo porque nossa participação nesse tipo de atividade já é um prêmio, tanto para ela quanto para mim. Aceitei de pronto e vamos realizar essa tarefa a dois. Com toda certeza faremos a diferença um ao outro. Recordo-me quando comecei minha vida acadêmica, numa noite em um final de semestre bastante cansativo, distribui todas as folhas de provas para que os alunos as realizassem. Como é de praxe, nessas circunstâncias, o professor sempre faz comentários sobre o conteúdo questionado na avaliação. Isso tranquiliza o aluno e o deixa distante de qualquer tipo de inconveniência. Assim que entreguei as provas, um dos alunos, sentado a minha direita na fileira da porta, mais precisamente na quarta carteira, levantou a mão e me questionou uma das perguntas. Fui até onde estava esse aluno e respondi que sua indagação tinha resposta no verso da folha. Em ato imediato levei a mão para mostrar a ele o verso da prova porque ali estava a resposta da sua pergunta. Ele, instintivamente, colocou sua mão sobre a prova impedindo que eu o fizesse. Em seguida lhe pedi que me deixasse mostrar a resposta do outro lado da folha. Ele se recusou a virá-la quando percebi que sua fisionomia aparentava preocupação excessiva. Forcei o ato e constatei que debaixo da folha havia um papel com alguns escritos. Notei tratar-se de uma ‘cola’, como se diz no palavreado estudantil. Educadamente retirei a folha de prova de sua mão e solicitei sua saída da sala. Voltei para os demais e, como se nada tivesse acontecido, esclareci todo tipo de dúvidas. Mas eu continuava observava a perplexidade do aluno ainda na carteira. Parecia que ele não acreditava naquilo que havia acontecido. Olhei mais uma vez para seu rosto e em tom baixo para não expô-lo ao ridículo lhe falei que poderia retirar-se. Mas ele continuava parado, sem nenhuma resposta. Resolvei fazer diferente. Peguei novamente a prova e fui até sua carteira e lhe disse: faça a prova. Nem é preciso dizer da humildade e da satisfação que tomou conta dele naquele instante. Realizou a prova e esperou que todos saíssem sala. Olhou para meu rosto e disse: Professor me desculpe. Nunca mais na vida farei isso novamente. O senhor me deu uma lição que eu nunca havia recebido em casa. É a vida, respondi. Pois então, para esse aluno, creio ter feito uma grande diferença.

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