terça-feira, setembro 17, 2013

Punição desnecessária e inconsequente

Veja só. Sérgio Porto sob a alcunha de Stanislaw Ponte Preta teria dito que o impossível acontece. E acontece mesmo. Mas, por instantes a gente não acredita. Todo mundo sabe que a posição da nação brasileira não é lá grande coisa quando se fala em primeiro mundo. Oitavo mundo tem me parecido mais racional. Vou te contar um fato deplorável. A fim de pegar umas fotos que mandei revelar aqui na minha cidade acabei por estacionar meu carro numa oportuna vaga a sol aberto. Ao sair do estabelecimento adentrei ao carro para minha rotineira viagem de trabalho, mas confesso que foi um sufoco perceber a temperatura dentro do veículo naquele instante. O calor de dentro dele quase derreteu um chocolate prestígio que estava no seu interior. Claro que todo mundo sabe o tamanho desse chocolate e o sabor delicioso que tem. Mas, ainda, isso não é o fato mais interessante. No quilômetro 468 da Rodovia Euclides da Cunha resolvi abocanhar a guloseima quase derretida. Apanhei o invólucro e com os dentes perfurei uma de suas extremidades. Apertando o conteúdo de baixo para cima o saboreei deliciosamente. Como a embalagem ficou vazia e bastante úmida pelo chocolate derretido, ao invés de colocá-la no saquinho do lixo preso ao câmbio, abaixei o vidro da porta do meu lado e suavemente me desfiz do pequeno papel no quilômetro 469. Note que uma embalagem de prestígio aberta apenas numa das extremidades, não mede mais que 10 centímetros de comprimento por 2 centímetros de largura. Foi esse o delito que pratiquei. Entretanto, atrás do meu veículo na mesma direção a que eu me dirigia outro veículo seguia com três policiais rodoviários dentro. Observei que essa viatura me insinuava com seus faróis para que eu parasse e os atendesse. Foi isso que fiz. Dei o sinal de alteração do trajeto, liguei o pisca intermitente e parei para atendê-los. Um policial rodoviário mostrando-se bem humorado, mas de fato não era o que aparentava se dirigiu ao meu veículo e exigiu os documentos do carro e minha carteira de habilitação, que com certeza é mais velha que ele. Momento seguinte o policial me disse que teria de fazer um auto de infração porque eu havia infringido a lei atirando um objeto para fora do veículo. Fiquei extremamente indignado, não conseguia acreditar que essas palavras partiam de um comandante da Polícia Rodoviária. Mas naquele momento me contive e raciocinei que algumas criaturas quando assumem posição de comando com menos de cinco anos ainda pouco entendem o que é realmente comandar uma equipe sem macular o respeito à sociedade. Raros são aqueles que não tentam mostrar o poder pelo lado inverso. Melhor seria se conhecessem os limites da decência e do equilíbrio. Perguntei a ele, mas o senhor vai me aplicar uma penalidade por eu atirar uma embalagem de chocolate prestígio pelo vidro do carro? Sua advertência verbal, com certeza, seria mais eficaz dado a vergonha que eu sentiria do ato impensado que pratiquei. Sim, isso mesmo, disse ele. Nós cumprimos a lei e quem faz a lei são os políticos, se o senhor tivesse olhado para trás talvez não atirasse o papel, retrucou ele, insinuando que se eles não estivessem logo atrás eu poderia ter praticado o ato indesejável. O senhor acha justo isso, perguntei? Ele meneou a cabeça num movimento de extrema dúvida e nada respondeu. Talvez se sentisse arrependido ou envergonhado de penalizar por tão pouco um profissional deste país que se dirige ao trabalho e que acertadamente contribui para aumentar as Receitas do Estado destinadas a pagamentos salariais de seus funcionários. Não tendo a coragem de registrar o fato, mandou que um de seus comandados o fizesse. Num gesto de humildade seu comandado cumpriu as ordens. Contudo, me parecia que o policial rodoviário que lavrava o auto não o fazia de forma agradável. Naquele momento eu imaginei que ele também discordava do registro que realizava. O terceiro acompanhante se distanciou mais ainda, talvez por nunca presenciar em sua digna carreira ato tão deplorável. Mas sob a prepotência do superior cumpriam-se ordens regimentais. Entretanto, o fato será capaz de colocar 4 pontos na carteira de quem quer que se atreva a jogar pela estrada um minúsculo invólucro vazio de chocolate. Enquanto isso, vamos assistindo em redes televisivas cidadãos fazendo barbaridades em zigue-zagues nas estradas deste país, com veículos trucados e de grande porte, colocando em risco sua própria vida, a vida das famílias que passeiam e a dos trabalhadores que como eu atiram pela janela do carro uma embalagem de não mais de 20 centímetros quadrados. Pelos policiais estarem ‘ocupados’ autuando pessoas que atiram palitos de sorvete ou embalagens de chocolates nas rodovias, possivelmente os fiscalizadores da ordem no trânsito não estarão nesses locais em que as atrocidades realmente acontecem. Assim que deixei o local enquanto obedecia aos 80 quilômetros horários, a viatura policial me ultrapassou a mais de 110 quilômetros por hora, velocidade não permitida para o local. Ao me ultrapassarem um dos ocupantes colocou o braço para fora do seu veículo e me fez acenos de despedida. Mais uma vez, indignado com o ato inoportuno, fui até ao próximo retorno e voltei para o local da infração. Encontrei o invólucro do chocolate do qual registrei algumas fotos ainda no acostamento da rodovia. Senhor comandante, não será com esse tipo de atitude que o senhor vai mostrar aos comandados e à sociedade que te paga, a qualidade de serviços que o povo espera. A Corporação da Polícia Rodoviária é digna e merecedora de todo respeito da sociedade brasileira, quem não sabe disso? Por favor, evite escurecer essa imagem. Seu comportamento foi inadequado dado a irrelevância do acontecimento. Se na escola os professores se comportarem com seus filhos da forma de seu exemplo, com certeza teríamos no futuro uma sociedade totalmente despreparada. Fiquei indignado com sua atitude de ‘homem da lei’ e quando assinei a sua imposição de penalidade tive a deprimente sensação e vergonha de imaginar se vale a pena dizer patrioticamente que sou brasileiro.

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