segunda-feira, dezembro 02, 2013

De portas abertas

Nos meus tempos de criança as coisas me pareciam mais justas. Não que hoje não tenha coisas justas. Mas agora me parece um pouco diferente. Recordo-me que quando passava frente a qualquer tipo de templo religioso ele se mantinha de portas abertas dia e noite. Como é triste ver hoje que as portas das igrejas não estão abertas o tempo todo. Fecham-se as portas, fecham-se as graças. Será que pessoas fariam algo inconveniente dentro dos templos? Será que alguém inescrupulosamente levaria objetos de valor de dentro deles? Até pode ser que isso aconteça. Os templos se restringem a pedras, madeiras e alguns com imagens. Duvido que alguém se atrevesse a levar um banco de encosto ou uma imagem para sua casa! Exceto os excêntricos e os lunáticos. Mas, é certo que de um povo não esclarecido tudo pode acontecer. Objetos de valor necessitam ser guardados em lugares apropriados onde curiosos e inconsequentes deles não se apoderem. Será que a Igreja de portas fechadas foi a sonhada por Cristo? Não creio. A Sua Igreja não tinha portas. Era ao ar livre e as pedras que tinham serviam de bancos, onde as pessoas se aglomeravam para ouvir a santa palavra. Mas eu não consigo admitir também que essas pessoas deficientes e portadoras de todo tipo de delinquência não sejam filhos de Deus. Somos culpados pelo tipo de educação recebido por elas. Desperdiçávamos o dinheiro em favor do luxo e da ousadia enquanto essas crianças tornavam-se adultos. A sociedade culta é responsável pela delinquência distribuída de portas fechadas. As Igrejas (todas) arrecadam dízimos e doações, portanto devem criar mecanismos para que seus templos jamais cerrem as suas portas. As repartições públicas têm policiamento de guarda. Por que as Igrejas também não o possuem? Aliás, Igreja que se propõe a fazer caridade deveria ser construída sem portas, assim não teria o direito de não acolher na hora que realmente precisa o desafortunado. Mas não é só a Igreja que precisa deixar suas portas abertas não. As pessoas de forma geral precisam aprender a deixar seus corações abertos aos que dele precisam. Não há neste mundo nenhum coração tão perfeito que não necessite de impulsos para continuar batendo. De portas abertas é preciso não deixar que os olhos se fechem contra a bárbara exploração de menores, de imigrantes sem papéis de trabalho e explorados à margem de toda legislação. Nem mesmo a tão aclamada justiça se pressupõe aberta, por vezes vendida de olhos esbugalhados face à obediência de poderes, deixando claro seu não cumprimento do papel digno para o qual foi criada. Que deixe também suas portas abertas para quem dela necessite sem determinação de hora e lugar. Por que você perde seu bom humor, quanto te faço um questionamento, perguntou o pai a sua pequena filha, que chegava 15 minutos mais tarde da hora marcada para o jantar. Sua mãe tentava acalmar o nervoso pai enquanto pedia explicações sobre o que tinha acontecido. A menina respondeu que tinha parado para ajudar sua amiguinha, porque ela tinha levado um tombo e sua bicicleta tinha se quebrado. - E desde quando você sabe consertar bicicletas? – perguntou a mãe. - Eu não sei consertar bicicletas! – Disse a menina. - Eu só parei para ajudá-la a chorar. Poucos sabem consertar bicicletas. Mas quando nossos amigos caem e quebram, não as suas bicicletas, mas suas vidas, talvez poucas vezes tenhamos a capacidade de ajudá-los a consertá-las. Mas como a menina, nós podemos parar para ajudá-los a chorar, se isso é o melhor que nós podemos fazer. E isso significa que nossas portas estão abertas a quem delas precisem, em qualquer lugar e a qualquer hora. Pouco mais que isso será preciso.

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