domingo, agosto 03, 2014

Minha irmã, minha grande amiga

Como foi bom contar sempre contigo. Que orgulho eu tinha de chamá-la de minha irmã. Nascemos do mesmo ventre, das mesmas entranhas, mas fomos fisicamente diferentes. Isso nunca importou, claro. O fato é que você foi minha irmã e minha melhor amiga, isso nos fez amar e ser amados um pelo outro por todo o tempo de nossa convivência. Lembro-me de você ainda pequena, quando balbuciava palavras, me perguntava oito, nove, dez vezes a mesma coisa e em seguida ainda me dizia: por quê? E eu tinha que explicar o porquê também por dez vezes. Mas isso nada importava. Você cresceu e me ajudou a aprender a sabedoria das coisas. Quando você se punha a orar seu gesto me obrigava a refletir o seu ato. Em todos meus momentos bons ou ruins estava sempre a oferecer o teu abraço, o teu carinho incondicional. Conheceu tanto a mim quanto você mesma. Um dos únicos defeitos seus era não criticar os meus defeitos. Sempre procurou mostrar o que de melhor eu tinha a oferecer. Me apoiava sempre e me divertia com seu ciúme infantil e transparente me mostrando a felicidade que tinha por sermos irmãos. Te agradeço muito pela companhia que me fizestes no pouco tempo que tivemos a felicidade do convívio. Não entendi ainda porque se foi. Não entendo até hoje porque as pessoas que amamos tanto têm um limite de convivência conosco. Amáva-mos um ao outro sem nada esperar de volta. Nenhuma pretensão era possível enxergar entre nós. Eu te entendia sempre e você me retornava o entendimento da mesma forma. Nos amamos muito durante o tempo que tivemos perto um do outro. Eu continuo te amando e creio que você o faz também, mas eu não imagino onde estás. A morte leva as pessoas embora e não informa para onde leva. As pessoas que ficam é que imaginam para onde foram levados seus mortos. Cada um segundo sua crença e sua fé define o ponto de encontro do futuro. Com os outros irmãos que aqui ficaram tentou-se diminuir a angústia da sua ausência. Ainda tive a felicidade de conviver por mais tempo com eles. Mas, dois deles também tomaram o seu rumo e deixaram nos três que aqui ficaram uma grande angústia de perder um pedaço de si. Eu tenho razão de sentir saudade. Nós fizemos um pacto de envelhecermos juntos e você não me deu essa chance. Não cumpriu sua promessa e sem mesmo despedir resolveu mudar de vida. Antecipou sua hora de ir embora. Não me deu prazo de te pedir para que não fosse. Simplesmente travou o ponteiro do seu relógio não deixando mais que suas horas acontecessem. Carlos Drumont, em versos, bem definiu nossa distância: “Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança. Sim, tenho saudades. Acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza, nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste. E você meu ilustre leitor? Tem pensado o quanto seu irmão é importante para você? Espero que tenha dito a ele ou a ela o quanto você os ama e que a construção de sua existência não termina sem a participação dessa ligação divina chamada irmandade. É preciso que amemos cada pessoa como se para nós ela estivesse acabado de nascer e seu coração não estivesse impreganado de julgamentos impróprios. Ame cada um como se fosse passado uma borracha sobre seus erros e se pudesse enxergar tão somente o que há de bonito dentro dos corações. Professor Manuel Ruiz Filho manuel-ruiz@uol.com.br

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